quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Sobre touros e touradas

  As touradas são ou não são legítimas? Numa altura em que as maiorias se submetem ao poder das minorias, as touradas, um pouco por todo o lado onde têm tradição, continuam a ser contestadas e os representantes do poder proibem-nas atendendo a tantos protestos de muita gente mal informada e prepotente, direito absoluto nas democracias modernas das imensas minorias que nos infestam as nossas decisões.
Confundem cultura e tradição e deixem-me dizer, respeito pelos animais, com uns supostos direitos dos animais e progresso humano. Comparam o incomparável: as touradas à escravatura, aos direitos das mulheres, à mutilação genital e por aí fora... em poucas palavras confundem os seres humanos cujas características são partilhadas por todos, negros, crianças, mulheres, crentes, ateus, agnósticos... com a sensibilidade animal. O touro sofre com as farpas - pois é claro que deve sofrer - mas os toureiros enfrentam-nos num combate justo, por vezes vencem, outras vezes são vencidos... a razão de ser dos touros é poderem ser toureados, opondo a inteligência humana à força bruta.
São os touros mal tratados por serem toureados? Não me parece, mas parece-me que muitos animais domésticos - com os cães à frente - vivem um cativeiro não desejado. Basta ouvi-los a "chorar" horas seguidas quando os amados donos os deixam em casa enquanto se vão divertir...
Aqueles que querem que os políticos decretem o fim das touradas, têm que perceber que os seus combates não se podem opor à opinião dos que pensam de forma contrária à sua. Toda a gente tem direito ao protesto e à manifestação, mas ninguém tem o direito a impor uma determinada forma de ver o mundo e fazer com que os detentores do poder legislem de acordo com as suas convicções.
No cosmos há seres humanos e outros seres não humanos. Era bom que isso nunca fosse esquecido. A luta prioritária de todos os grupos deveria ser pela igualdade do que é igual e pelo respeito do que é diferente. Assim poderíamos todos denunciar as injustiças, para com os pobres, os direitos dos menos favorecidos - mulheres, crianças, deficientes... - e tratar da igualdade entre os que verdadeiramente são. O que não é igual à humanidade mas que é imprescindível à sua sobrevivênvia - natureza, animais, etc - é para ser respeitado mas não igualado ao sentir e viver dos humanos.
Tenho a dizer que nunca fui a uma tourada, não tenho nenhuma ligação à cultura dos touros, apenas acho que o direito de uns - os anti-touradas - não se podem sobrepôr aos direitos dos outros - os pró-touradas. Todos têm direito a expôr os seus argumentos e a respeitar os argumentos alheios, tanto mais que naquilo que respeita a este tema, continuamos a confundir dois planos: o humano e o não humano e tal não é lícito nem intelectualmente honesto.