sexta-feira, 31 de maio de 2013



Tolstói (1828-1910) sobre a arte, entre tantas outras coisas escreveu: "A arte é um dos dois órgãos de progresso da Humanidade. Pelas palavras, o homem comunica o pensamento, pela arte comunica o sentimento a todas as pessoas não só do presente, mas também do passado e do futuro". Seja a arte, aquilo que for. Manifeste-se, como se manifestar: pela música, pelo canto, pela pintura, pela escultura, pela literatura, pela poesia...
É a criação que a arte expressa que dá sentido à nossa existência pela ligação a um passado que não conhecemos e a um futuro que desejamos.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Da verdade e da poesia

 É com simplicidade que João afirma que a Verdade habita em cada um de nós, mesmo que oculta. E porque assim parece ser, é a poesia que nos coloca mais perto dela.
Eis um desses exemplos num belo poema de António Franco Alexandre:

"Verdade, somos iguais
temos quase a mesma idade
o sangue a esmo que escorre
a vertente dos sinais

rasgamos sombra na chuva
o corpo aberto ao jamais
luva em luva nos abrimos
cada qual com sua chave

demasia nos visita
no som pálido das horas
o erro nu nos demora

cada um por si imita
o som branco dos demais
verdade, somos iguais"

António Franco Alexandre, A pequena face (1983).

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Na Mão de Deus também descansam agnósticos e ateus

 Antero de Quental (1842-1891) crítico do sentimento religioso, não pôde, como grande poeta de inspiração mística que realmente foi, deixar de procurar a tranquilidade que parece nunca ter conseguido,  no regaço daquele que tanto gostava de negar.
Tantas foram as palavras inflamadas, tantos os discursos racionais para, no final, em catorze simples versos, poder agasalhar a alma com a tranquilidade que buscava.
Aqui fica o seu belo poema:

Na Mão de Deus

Na mão de Deus, na sua mão direita,
Descansou afinal meu coração,
Do palácio encantado da Ilusão
Desci a passo e passo a escada estreita.

Como as flores mortais, com que se enfeita
A ignorãncia infantil, despojo vão,
Depus do Ideal e da Paixão
A forma transitória e imperfeita.

Como criança, em lôbrega jornada,
Que a mão leva no colo agasalhada
E atravessa, sorrindo vagamente,

Selvas, mares, areias do deserto...
Dorme o teu sono, coração liberto,
Dorme na mão de Deus eternamente!

                                Antero de Quental