sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Festas felizes

Uma maneira boa de passar as festas de natal e passagem de ano é com as melhores companhias, entre as quais se encontra a Poesia.
Deixo transcrito um poema de Miguel Torga sobre o natal.


Último Natal

"Menino Jesus, que nasces
Quando eu morro,
E trazes a paz
Que não levo,
O poema que te devo
Desde que te aninhei
No entendimento,
E nunca te paguei
A contento
Da devoção,
Mal entoado,
Aqui te fica mais uma vez
Aos pés,
Como um tição
Apagado,
Sem calor que os aqueça.
Com ele me desobrigo e desengano:
És divino, e eu sou humano,
Não há poesia em mim que te mereça"

Miguel Torga

sábado, 10 de dezembro de 2011

A criatividade dos mais novos

DESILUSÃO


         Há alguns anos atrás, estas casas eram habitadas por uma população muito feliz, que estava sempre muito divertida e alegre.
         Um dia, apareceu lá uma mulher muito bonita, com uns longos cabelos pretos, mais escuros que a escuridão, uns olhos muito negros mas tão brilhantes como o céu estrelado e uma pele tão branca, tão branca, tão branca que até fazia lembrar a cal. Tinha um grande vestido roxo, que ligava muito bem com os sapatos de veludo, com o colar de contas, com os brincos carregados de jóias, com o verniz das unhas e o batom dos lábios, …
         A mulher era tão bonita que todos os homens ficaram encantados. Tão encantados ficaram, que passaram a agir como artistas de circo, na tentativa de a conquistar. Mas foi em vão. A mulher apenas estava lá porque andava a viajar e precisava de algum sítio para passar a noite.
         Os habitantes aceitaram a proposta dele e deixaram-na ficar num celeiro mesmo no fim da praia.
         Mas, o que eles menos esperavam, era que aquela mulher fosse uma bruxa, uma bruxa muito má que andava de aldeia em aldeia saquear e a pilhar tudo o que lá houvesse. Roubou as colheitas dos campos, as casas, os barcos, as igrejas e, no fim, lançou uma maldição:
         - Este mar vai-se assegurar que ninguém volta a entrar nestas casas.
         Então, todos os habitantes se foram embora. Mas antes de irem de vez plantaram quatro árvores na areia, pois não tinham outro sítio para o fazer, (um pinheiro, um cipreste, um choupo e uma faia). Alguns dizem que foi para se lembrarem onde era a aldeia, outros acham que foi para a aldeia não ficar completamente vazia mas eu penso que foi um presente para o mar, para que ele proteja a aldeia e para que se lembre sempre dos seus amigos, os moradores daquele local.
        
Pedro Manso

domingo, 27 de novembro de 2011

Do amor e da sua falta

                    Quando as forças nos faltam e o mundo à nossa volta parece que não encontra o sentido, temos que pensar com os antigos e na simplicidade daquilo que nos legaram.
Hoje escolhi S. Paulo, um fundador do catolicismo, em cujo discurso abundam as afirmações de reprovação do amor sensual, mas tal facto que não o impediu de legar à humanidade um dos mais belos poemas sobre o amor que a seguir transcrevo:

“Ainda que eu fale a língua dos homens e dos anjos,
se não tiver amor sou como o bronze que soa ou um címbalo que retine.
Ainda que eu tenha o dom da profecia e conheça todos os mistérios e toda a ciência, ainda que eu tenha tão grande fé que transporte montanhas, se não tiver amor, nada sou.
Ainda que eu distribua todos os meus bens e entregue o meu corpo para ser queimado,
se não tiver amor de nada me vale.

O amor é paciente,
o amor é prestável,
não é invejoso,
não é arrogante nem orgulhoso,
nada faz de inconveniente,
não procura o seu próprio interesse,
não se irrita nem guarda ressentimento.
não se alegra com a injustiça,
mas rejubila com a verdade.
tudo desculpa, tudo crê,
tudo espera, tudo suporta.

O amor jamais passará.
As profecias terão o seu fim,
o dom das línguas terminará
e a ciência vai ser inútil.
Pois o nosso conhecimento é imperfeito 
e também imperfeita é a nossa profecia.
Mas quando vier o que é perfeito,
o que é imperfeito desaparecerá.
Quando eu era criança,
falava como criança.
Mas, quando me tornei homem,
deixei o que era próprio de criança.

Agora, vemos como num espelho,
de maneira confusa;
depois veremos face a face.
Agora, conheço de modo imperfeito;
depois conhecerei como sou conhecido.
Agora permanecem estas três coisas:
a fé, a esperança e o amor;
mas a maior de todas é o amor”
S. Paulo, ICor, 13, 1-13.

Em conclusão: a vida sem amor não tem sentido e para nada servirá. E o amor, em todas as suas formas é a coisa mais simples de realizar – nas palavras, nos actos e até nas omissões.




segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Do Agostinho em torno do destino do Homem

    

Porque em tempos de crise, espiritual e material, convém ler os antigos, deixo aqui um excerto de um texto assinado por Agostinho da Silva e publicado, em tempos, na íntegra, no Blog Cadernos de Filosofia Extravagante 

 

                               Projecto

Agostinho da Silva

A quem chega, esfomeado de sol que não seja apenas uma entidade de cálculo astronáutico; de mar que não seja somente o das velhas imagens de cinza e chumbo; de céu que não evoque fatalmente todos os pessimismos prognósticos de uma poluição em que a humanidade se suicide; a quem vem de todos os medíocres países humanos cujo ideal mais alto parece ser o de constituírem um mercado comum que, dados os pontos fundamentais em que assenta não será mais do que um supermercado de excesso de produção e de consumo em que o que vale é o dinheiro de que cada um dispõe e não a fome que tem para satisfazer; aos que atravessam os Pirinéus, não com as incomodidades e os desastres de quem, por não ser rei em terra própria, vai ser na alheia escravo, mas com os confortos que mais rápida do que lentamente lhes estão destruindo a alma, pelo pecado mortal de ter sempre mais do que precisam e menos do que desejam; a esses tais, indo-europeus, brancos e pragmáticos, que dominaram o mundo e cujo afã é o de organizarem o trabalho de tal modo que ele os obrigue a trabalhar mais; àqueles que estão inquietos pela existência de nações em que ainda o indivíduo existe, as atraem a seu supermercado e já tentam a Espanha, e em que apesar dos desesperos se espera que volte o Rei Artur ou O de Alcácer; a esses todos oferece Sesimbra sol, céu e mar; que os ilumine, os proteja, os embale..." 

Ou seja, por mais que nos custe aceitar, as coisas boas são aquelas que nos são dadas e o que graciosamente nos é dado deveria ser estimado e apreciado, pois o Ser vale mais que o ter, o contemplar vale mais que o produzir, o desejar vale mais do que o possuir.
De uma maneira simples, o mundo está em crise porque o homem tem vindo a inverter as suas prioridades.   

sobre a verdade

"O melhor de uma verdade é o que dela nunca se chega a saber", escreveu algures Vergílio Ferreira.
E parece que assim é. O próprio Cristo quando interrogado sobre o que era a Verdade, virou o olhar e fixou-o no chão e com este silêncio respondeu ao essencial: o fundamental da Verdade é o que permanece para além dos discursos e das acções.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Sobre Fédon, um belo diálogo de Platão

A IMORTALIDADE DA ALMA NO FÉDON DE PLATÃO - Parte 84b – 89c. Em O Rodrigão, Jornal da Escola secundária Rodrigues de Freitas, Porto, Dezembro 1995, p. 12

Os argumentos usados na discussão da Imortalidade da Alma no Fédon de Platão  são de origem pitagórica: excepto a Teoria da Alma-Harmonia, argumento este de consequências materialistas.

1. ANTECEDENTES:

— Parte Introdutória:

• Morte, separação da Alma e do corpo (Fédon, 64c).
• Morte, trampolim para a Sabedoria (Fédon, 65b).
• Os objectos invisíveis e absolutos: Justo, Belo e Bom (Fédon, 65d).
• Virtude, vem acompanhada de Razão (Fédon, 69a ss).

2. A DISCUSSÃO SOBRE A IMORTALIDADE DA ALMA. ARGUMENTOS UTILIZADOS:

. ARGUMENTO DOS CONTRÁRIOS – 70c-72e.
• TEORIA DA REMINISCÊNCIA- 72e – 77a - Introduz e com ela se liga a:
• TEORIA DA ALMA -HARMONIA (85e – 86d; 92a – 94e).

3. CONSEQUENTES

A Teoria da Alma-Harmonia vai ser rejeitada.
Sócrates responderá aos argumentos que Símias e Cebes lhe colocaram: Símias irá ser esclarecido que a harmonia é posterior à lira, tal como a Alma é anterior ao corpo. Ela não é só o conjunto de funções do organismo, mas opõe-se também às suas paixões. Se a Alma, que é Harmonia, o vício, que é ausência de harmonia não pode existir.
Cebes, que sugeriu a Teoria das Ideias irá ouvir em resposta aos seus argumentos, a formulação dessa mesma Teoria. É comum que o lugar das ideias de frio, ideia da dualidade e seu par, excluem o seu contrário, o ímpar. Também a alma que traz a vida ao corpo, factor harmonizante, tem por função essencial manter vivo o que o corpo possui (Fédon, 87d,e – 105e), está necessariamente ligada à ideia de vida e como ela exclui a ideia de morte, tal como o calor exclui o frio, a dualidade exclui o ímpar. Assim, uma alma morta é uma contradição dos termos (Fédon, 106b).

A Alma tem a Imortalidade da sua participação na ideia mortal do corpo.

ARGUMENTOS APRESENTADOS

FACE À MORTE, SÓCRATES FALA DA IMORTALIDADE — Sócrates, depois de apontar as vantagens da morte física para a purificação da Alma e a tranquilidade com que se deve encarar a morte, depara ter sido pouco convincente para com Símias e Cebes.
Sócrates (Fédon, 85b) está convicto que a Alma após a morte se irá reunir ao que é conforme à sua natureza, liberta dos males da espécie humana... Não há perigo de alguma vez ela temer que ao separar-se do corpo, se desvaneça, aniquilada pelos ventos e se vá para não mais deixar rastos de existência.
O dramatismo do momento inibe e retrai os contestatários que pensam Sócrares estar pouco convicto do que diz, sendo levado a tais conclusões pelo momento especial que se aguarda (a sua morte física).

— A VIDA EXEMPlAR E OS DONS DIVINATÓRIOS

— O COMUM E A EXCEPÇÃO OU A EXCEPÇÃO COMO COMUM
O que é comum não é as aves cantarem quando pressentem a morte mas sim os Cisnes (aves de Apolo) cantarem as suas mais belas canções que mais não fazem senão antever as maravilhas que os esperam. Não é com o sofrimento que alguém se expressa de forma sublime mas sim na posse ou pré-posse da felicidade suprerna.
Na Apologia (40c), Sócrates referiu o seu dom divinatório: Efectivamente a minha voz interior habitual não teria deixado de se opor, se eu estivesse para praticar algo que não fosse bom.
Fédon, 85b, Os cisnes como aves que são de Apoio possuem o dom de adivinhar.. Também eu me julgo um companheiro da servidão dos cisnes... Consagrado como eles ao mesmo deus possuidor de dons divinatórios, de meu amo recebidos, não inferiores aos deles, e não mais desgostoso do que eles por abandonar a vida...

— A ALMA COMO HARMONIA

— OS ARGUMENTOS MATERIALISTAS DE SÍMIAS E CEBES
Ambos aceitam a Pré-existência da Alma, mas vão contestar a sua Imortalidade.

A) Harmonia como suporte corporal que se relaciona com os corpos que a compõem, em igual medida - ela é a medida justa.

B) Alma como resultante de uma mistura de elementos. Símias serve-se das teorias dos físicos, que consideravam a alma como resultado de tensões corporais.
Fédon, 86b, Corpo, tensão e coesão de elementos — quente e frio, seco e húmido, etc. — Alma, mistura e harmonia desses mesmos elementos Esta teoria parece radicar na concepção abstracta de que os corpos são constituídos de opostos (Anaximandro; Quente/Frio; Húmido/Seco; Empédocles: Fogo/Ar; Agua/Terra).
Fédon, 85e – 86a, Harmonia entre lira e respectivas cordas. Harmonia elemento invisível, incorpóreo, algo de divino e sumamente belo, que faz na lira harmonizada. Lira em si e cordas que é o elemento material, conpóreo, compósito e terreno, aparentado ao que é de natureza morta.

C) Alma intimamente ligada ao corpo. Com a aniquilação do corpo, põe-se em causa a Imortalidade da Alma.
Quem pelos sentidos vê a matéria degradar-se progressivamente e por eles se guia, não admite que, o que anima essa matéria tenha o privilégio da Imortalidade. Toda a matéria perece um dia, por isso, a Alma que é harmonia, apenas durará mais tempo que o corpo, mas não poderá ser Imortal. Fédon, 86c, com a progressiva extinção do corpo, também a Alma que o animava, apesar de sumamnente divina, não ficará incólume à destruição se bem que dure mais tempo que o corpo.


— CEBES: ENCONTROS E DESENCONTROS COM A TEORIA DE SÍMIAS

A) A Alma pré-existe ao corpo, mas Símias dá maior duração à Alma que ao Corpo. Fédon, 87a, agora que subsista algures após a nossa morte, tenho opinião diversa e não concordo com Símios ao dar-lhe maior perdurabilidade em relação ao corpo.

B) A metáfora do tecelão e do manto, Fédon, 87b ss, põe em evidência que se o corpo não é indestrutível, a Alma não é inteiramente eterna. Qual das duas espécies é mais duradoira, a do homem ou a do manto de que se serve e usa? A Alma é mais duradoira e o corpo mais frágil e menos durável. Cada Alma gasta um mor de corpos... Não impede de que quando a Alma perece esse derradeiro corpo que a Alma teceu e enverga seja por força o único a subsistir após o seu aniquilamento, e uma vez aniquilada a Alma (tecelão), será a vez de o corpo (manto), revelar a sua infinita fraqueza, em breve apod recendo para desaparecer.
Nada impede por isso que a Alma possa perecer antes do último corpo que animava e em consequência, este acabar sem Alma.
A TEORIA DA REMINISCÊNCIA está garantida e definida e se esta é aceite, a PRÉ-EXISTÊNCIA não pode ser eliminada. Contudo não se deve aceitar que a nossa Alma passe incólume a diversas existências e não acabe destruída de todo numa das tais mortes (Fédon,  88a).

C) A Alma desgasta-se de corpo para corpo. A preocupação com ela tem sentido na medida em que não se sabe que destino terá depois de abandonar o nosso corpo. A morte não nos pode alegrar e ser tida como um bem até ao momento em que se consiga demonstrar completa e inequivocamente que a Alma é imperecível e Imortal.
Fédon, 88b, A confiança na morte não tem razão de ser a menos que se consiga demonstrar que a Alma é a todos os títulos Imortal e imperecível. De outra forma o que está prestes a morrer não pode deixar de inquietar-se pelo destino da sua Alma, pois ao separar-se do corpo não é desta vez que fica em defenitivo aniquilada.

— PARA CONTINUAR A DISCUSSÃO
Cebes, deixa espaço aberto à apresentação da Teoria das Formas (ou Ideias) e atribui à Alma poderes superiores com pendor determinante nas ponderações a tomar pelo indivíduo. A Alma assemelha-se ao divino, nutre e alenta os corpos, ao mesmo tempo que os antecede e mantém sempre a possibilidade de lhes sobreviver.


ARTUR MÀNSO

sábado, 22 de outubro de 2011

Outono

 O céu ainda não se cobriu de nuvens, os montes ainda não estão manchados de branco, as manhãs ainda não estão muito frias... mas o outono está aí. Os campos estão tristes, cobertos de uma mancha acastanhada, as árvores mostram a totalidade da sua extensâo á medida que as folhas, estaladiças as deixam para apodrecer em qualquer lugar.
O outono é estação monocular que prepara o inverno e nos deixa a quase todos melancólicos... literalmente á espera que o tempo passe!    

domingo, 16 de outubro de 2011

Sobre os indignados

Os indignados ou os jovens precários têm ganho força um pouco por todo o lado. São de facto vítimas - tal como todas as sociedades ocidentais - dos desmandos das democracias que querendo dar tudo a todos, acabam por privar todos de quase tudo...
Os políticos vão e vêm, acrescentam problemas aos problemas e "chutam" para as gerações futuras o preço real da irresponsabilidade dos seus actos.
Apesar de tudo,  o mundo ocidental é muito melhor hoje do que na revolução francesa, na revolução russa ou mesmo no maio de 68... a começar pelo direito a mostrar clectivamente a indignação...
O mundo mudou para um novo paradigma e o trabalho já não pode ser visto como um emprego para toda a vida, onde os poucos que tiverem acesso a ele passam a ter direitos e os outros a ser explorados...
É preciso uma nova atitude. O trabalho executado tem de ser pago a todos da mesma forma e todos enquanto trabalharem têm que ter os mesmos direitos. O trabalho não pode ser temporário para uns e a tempo inteiro para outros, sendo que aqueles que o têm a tempo inteiro exploram os seus semelhantes ao serem remunerados de forma supletiva pelo mesmo trabalho realizado.
Não há volta a dar. Os tempo de hoje não são os mesmos da revolução industrial ou da produção em série do pós guerra. Os ocidentais prescindiram do trabalho para os seus, pois ao tornarem o comércio livre já sabiam o que iria acontecer e agora os seus não querem ser precários e os decisores não sabem o que fazer.
Provavelmente serão forçados, mais tarde ou mais cedo, a regressarem ao proteccionismo... e nesse momento milhões de outros indivídus que apesar de tudo têm beneficiado da "crise ocidental", hão-de regressar às condições miseráveis de vida que ainda conhecem de perto.
Veremos se os próximos tempos nos trazem estadistas de visão alargada que consigam conciliar os interesses em causa e tornar a uma ideia de humanidade onde todos estejam dispostos a partilhar... doutra maneira, a estabilidade dos povos poderá sofrer um sério revés, quem sabe mesmo um conflito em alta escala.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Sobre a morte e sobre a vida

 

Estive a ler o livrito de Filomena Mónica A morte. O tema não me é desconhecido, já há muito que o acompanho. a temática essa sim é mais que actual e prende-se com a necessidade ou não de os governos legislarem sobre o direito individual ante a morte. Acompanho há bastante tempo a polémica, pois tenho tido a oportunidade de ler e trocar ideias sobre o assunto com a Laura Santos, porventura aquela pessoa que mais profundamente tem vindo a abordar o problema.
Sempre me chocou e continua a chocar-me qualquer legislação sobre a morte ou qualquer outro direito básico do ser humano - como por exemplo o aborto. reconheço que a tarefa não é fácil, mas para mim é muito simples. Filomena Mónica, surpreendentemente chama ao debate toda a gente, desde o extremo daqueles que defendem o Estado nada ter que ver com estas decisões, à Igreja católica que como aponta, defende ao limite a vida, nada admitindo que a possa reduzir ou por em causa para além das condições naturais - não compreendendo eu como pode a Igreja ser tão apegada a esta vida se a sua mensagem é a apologia de algo cuja concretização é dificultada pela mesma, como pode considerar as máquinas meios naturais de suporte de vida, bem como a alimentação naso-gástrica, etc...
Sou crente, acompanhando Rousseau, "mais cristão que católico" e é enquanto tal que defendo para estes asssuntos coisas simples, a saber:
a vida pertence a cada um e cada qual tem o direito de dispor dela como lhe aprover, desde que as suas decisões não afectem de nenhuma maneira a vida dos outros - esta nenhuma maneira não inclui obviamente, a dor psicológica que estas decisões causam nos mais próximos
o Estado deve regular a vida e satisfazer os anseios dos cidadãos: se estão ligados á máquina e desejam ser desligados o Estado deve satisfazer os seus desejos sem qualquer constrangimento, bem como atenuar a dor ou diminiur o sofrimento a pedido do paciente ou daqueles que lhe forem mais próximos
os médicos são servidores dos indivíduos e como tal devem em consciência ter toda a liberdade para agir em conformidade com a vontade do doente e seus mais próximos. Se perceberem que a obstinação dos doentes ou seus próximos por uma vida que já não é possível, têm o dever de a "terminar" ou indicar qual o botão a desligar áqueles que o pretenderem fazer
o estado nada tem que ver com a decisão de Ramon Sampedro, dos familiares de Eluana e de todos os outros casos sobejamente conhecidos
não sei o que é que a natureza humana tem que ver com máquinas artificiais que mantêm um corpo a raspirar e a esse acto se dá o nome de vida

A natureza decide o que deve ou não prevalecer. se efectivamente houver vida ela há-de impor-se com o desligar da máquina ou a redução do sofrimento.
A igreja católica e outras devem fazer perceber aquilo que ensinam: viver de forma natural é respirar sem o auxílio de instrumentos, estes só são adequados quando resolvem uma situação transitória, ou seja, ajudam a restabelecer o fruir normal da vida... doutra forma não se justificam independentemente da opinião de uns e outros.

os interessados na morte que para além deste espectáculo público/privado, legal/ilegal queiram ter uma ideia mais clara sobre as  suas apropriações mais profundas devem ler o excelente ensaio de Jankélévitch, La mort e talvez aprendam a respeitar mais a vontade  individual e, enquadrando a morte num processo natural da vida compreenndam, como ensinam as religiões e algumas filosofias que viver é uma peparação para a morte e que esta admite o sofrimento, mas quando este não é desejado nem faz qualquer sentido, não deve ser prolongado... mesmo as pessoas sãs têm todo o direito de escolher morrer, mas não têm o direito de escolher pelos outros arrastando-os em decisões com as quais não concordam.     

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Sobre buracos e embustes


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A Madeira não é um buraco, embora tenha sido originada por uma espécie de buraco no mar. É um local de beleza e de contrastes e ao que parece, a segunda região mais rica de Portugal.
A sua riqueza deve-se aos portugueses que a compõem e aos que para ela contribuem, directa ou indirectamente. O discurso do "coitadinho" tem aproveitado muitos, msemo a nível mundial e a consequência é que de choradeira em choradeira, vêm os seus estados prosperarem na exactra medida em que outros definham...
São as contradições das tolerâncias impostas pelos regimes ditos democráticos que na expectativa de, pela liberdade, salvarem os seus cidadãos lhes retiram os meios de produção, o trabalho e a vida digna que esses instrumentos lhes costumavam garantir. É em nome da liberdade que permitem a Estados enriquecerem com o suor do rosto dos seus indivíduos, sem direitos de qualquer espécie, excepto o direito a trabalhar muitas horas a troco de pouco dinheiro, enquanto os filhos da democracia ficam sem trabalho e sem dinheiro, passando cada vez mais a viver de uma espécie de subsídio de sobrevivência, onde abundam os direitos garantidos, na exacta medida em que diminui a capacidade de os concretizar.   



sábado, 17 de setembro de 2011

Razão versus Intuição

Fritjof Capra o físico autor do livro O tau da física (trad. port. Presença) escreveu "O físico moderno sente o mundo através de uma especialização externa da mente racional; o místico através de uma especialização da mente intuitiva. Os pontos de vista são completamente diferente, e envolvem muito mais do que uma determinada visão do mundo. No entanto eles são complementares, como é comum dizer-se em física. Nenhum está compreendido no outro, nem nenhum pode ser reduzido ao outro, são ambos necessários, complementares um do outro para um conhecimento pleno do mundo. Parafraseando um antigo ditado chinês, os místicos compreenderam as raizes de Tao, mas não os seus ramos; os cientistas compreendem os ramos, mas não as raizes. A ciência não necessita do misticismo, e este não necessita da ciência, mas todos precisam de ambos"

Ora enquanto todos aqueles que se dizem preocupados com a descoberta da verdade não perceberem a necessidade de penetrar o dinamismo entre o racional e o intuitivo, entre a ciência, os factos, e as intuições, o mundo apenas será conhecido em parte. Para compreender é preciso juntar, nunca subtrarir, tudo aquilo que nos rodeia contribui de uma forma muito própria para a compreensão do Todo o qual só se revelará quando os contrários se conciliarem.

domingo, 11 de setembro de 2011

Das efemérides que se tornaram caracteristica da humanidade

11 de setembro de 2011 dez anos de como os homens são os "lobos dos homens". É na América, na Irlanda, na Noruega... e por aí fora. Há esperança? Sim, mas esta humanidade só promete o pior... e depois culpa Deus... que mais se pode dizer quando os actos falam por si...

domingo, 4 de setembro de 2011

A física da metafísica

"Partículas isoladas de matéria são abstracções, as suas propriedades são definíveis e observáveis apenas através da sua interacção com outros sistemas".
Niels Bohr

Ora, se os físicos, depois de tanto experimentarem, chegam a estas conclusões, porque razão os filósofos, nomeadamente os do tempo "pós-moderno" insistem em particularizar os factos, ignorando ostensivamente o Todo de onde provêm? 





quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Vaguear

Ilha do Pico - Açores

A terra rasga a água e eleva-se para beijar o infinito. Como que suspenso nos limites da sua imaginação, o homem aguarda o momento de com ela se elevar à grandeza que vislumbra nos seus melhores sonhos. O vagar e o repouso elevam-no aos patamares mais elevados.   

domingo, 14 de agosto de 2011

Sobre a Filosofia

"Do puro intelecto não provém nenhuma filosofia, pois a filosofia é mais do que apenas do conhecimento limitado do que já existe."
"Da pura razão não provém nenhuma filosofia, pois a filosofia é mais do que a cega exigência de um interminável progresso na união e na diferenciação de uma substância possível."
HOLDERLIN

Quando, cada vez mais se quer ensinar que a filosofia é um jogo racional, um exerício da razão sobre o que se pretende ser o esclarecimento da verdade, convém dar voz à tradição e ouvir aqueles que construiram uma obra sobre os fundamentos filosóficos. Só em diálogo com a tradição se pode entender, de uma vez por todas,  que se os problemas da humanidade se subsumissem ao exercício da racionalidade e da objectividade, a filosofia para nada serviria.
A razão de ser da filosofia e da sua perenidade advém do facto de o Homem, todos os homens, precisarem intrinsecamente de se compreenderem no todo que habitam e não apenas enquanto elos de um mecanismo causal mais ou menos previsível.
 

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

o repouso em tempo de férias

Belo repouso Van gogh 50x60 cm

Van Gogh - "O belo repouso"

Em tempo de férias convém aliviar o cansaço do quotidiano.
A natureza dá-nos tudo o que precisamos: ao longo das estações vai consumindo, tantas vezes de forma desmesurada, a energia que nos ajuda a produzir. Na sua generosidade esticamos o corpo e unidos a ela ganhamos a força que nos vai faltando para enfrentar o tempo que se aproxima...  

domingo, 17 de julho de 2011

sobre Deus e sobre os homens

Aquando da publicação do livro de José Saramago intitulado Caim e das declarações proferidas pelo seu autor acerca do Deus do Antigo Testamento, gerou-se na sociedade portuguesa um mau estar entre crentes e ateus.
Da minha parte, enquanto crente, não quero contribuir para essa cisão, tanto mais que considero que ser crente ou ateu são duas maneiras de manifestar uma fé intensa: os primeiros na existência de um Ser transcendente; os segundos na não existência nesse mesmo Ser e, desta forma, a afirmação da vontade de uns e outros acaba por coincidir.
Como leitor dos textos bíblicos, embora sem qualquer formação teológica, também tenho feito alguma interpretação livre dos mesmos. As imagens de Caim e Abel, Sodoma e Gomorra, o Dilúvio, o livro de Job… prestam-se a uma diversidade de interpretações. Da controvérsia gerada pelo sr Saramago, aqueles que a justificam e aqueles que se lhe opõem, parece-me que se afastam do essencial. Essa imagem de Deus, que se apresenta como cruel e vingativo, inimigo primeiro do seu povo, não corresponde à verdade. Nem sequer na leitura mais literal dos escritos sagrados.
Nas interpretações que têm surgido falta realçar o mais importante: Deus criou o homem como um igual e dotou-o de total Liberdade. Os maus costumes não são obra de Deus mas sim do livre arbítrio de que os homens foram dotados desde a sua origem. O Antigo Testamento é a história de um povo que só se lembra de Deus quando está em apuros, que, no essencial coincide com a história da Humanidade. O mal ou o bem que cada um fizer só a si lhe diz respeito, não provém da vontade de Deus. Nós humanos, ciosos da individualidade que nos constitui, fomo-nos afastando uns dos outros e convocando Deus apenas e só para os nossos interesses individuais. Perdemos a noção de Comunidade e de Igreja e servimo-nos dessas referências apenas para intercedermos pelos interesses próprios.
No primeiro livro da Bíblia fica bem marcada essa liberdade que é dada ao homem. Vejamos alguns exemplos. Deus disse a Adão e Eva para não comerem o fruto da árvore proibida e quando o fizeram, Deus, ao visitá-los no Éden chama por Adão que está escondido e este diz-lhe que se escondeu porque estava nu, ao que Deus replicou: “’Quem é que te disse que estavas nu? Será que foste comer do fruto daquela árvore, que eu tinha proibido?’” (Gn., 3, 11). Repare-se que Deus mostra não saber qual foi a acção de Adão e Eva.
O mesmo se passa com Caim e Abel. Caim mata Abel por ciúmes e quando Deus lhe pergunta onde está o seu irmão, responde: “’Não sei. Será que eu sou o guarda do meu irmão?’” (Gn., 4, 9). Deus primeiramente não lhe disse “porque mataste o teu irmão?”. E não lhe disse porque, de facto, não sabia. 
Esse respeito de Deus pelo seu povo e pela afirmação da sua liberdade fica também marcado pelo episódio da destruição de Sodoma e Gomorra. O diálogo entre Abraão e Deus é conclusivo. Abraão tenta desculpar os seus iguais dos comportamentos ignominiosos e argumenta que não deve pagar todo um povo pelas más acções de uns tantos. O diálogo termina assim: “’Que o meu Senhor não se zangue, se eu falo uma vez mais. Suponhamos que lá existem só dez pessoas que estão inocentes.’ O Senhor respondeu: ‘Também não a destruirei, em atenção a esses dez’” (Gn, 18, 32). Estes exemplos são tirados das primeiras páginas da Bíblia. Imagine-se, então, o rol de acções marginais que os indivíduos irão cometer ao longo da História do povo de Israel que o Antigo Testamento, conjunto denso e avultado de obras, nos relata!
Apesar de tudo, Deus irá compadecer-se com frequência do Seu povo. Mesmo que ele continue a desiludi-Lo. O exemplo mais marcante está na tarefa que foi resgatar o Seu povo à escravidão do Egipto e este, a caminho da terra prometida, depressa se rebela por diversas acções contrárias às prescritas contra tamanho acto de bondade e perdão.
Todas as interpretações do simbolismo bíblico dão para uma coisa e o seu contrário, mas não podem ignorar que Deus apresenta ao seu povo um manual de bons costumes e de acções rectas e os indivíduos que constituem esse povo, por interesses particulares e vontade acérrima de ocupar esse lugar que é reservado a Deus, dão azo à guerra e às dissensões permanentes, querendo ao fim e ao cabo, responsabilizar Deus pelo uso da liberdade com que foram dotados.
Os homens continuam a não perceber que Deus é insubstituível porque Ele não está no mesmo plano nem se rege pelos mesmos princípios da humanidade. Nesse desconhecimento, os indivíduos alimentam uma guerra sem quartel para atingirem um lugar a que nunca poderão aceder porque a sua natureza não o permite: todo o homem é imanente à criação, confunde a parte com o todo de que se afastou. Apenas Deus enquanto transcendente, compreende a totalidade de que nós apenas somos parte.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Da filosofia e... do seu ensino

"É admirável ensinar filosofia porque um dia foi admirável vivê-la. Ser um filósofo não é apenas ter pensamentos subtis, nem sequer fundar uma escola, mas amar a sabedoria a ponto de viver, segundo os seus ditames, uma vida de simplicidade, independência, magnanimidade e confiança".

Henry Thoreau (1817-1862)

Palavras para quê... ou se sente aquilo que se ensina, ou se repete aquilo que se aprende. A grandeza do ensino (seja do que for) está no amor ao objecto ensinado e na simplicidade da actividade pedagógica.   


quarta-feira, 29 de junho de 2011

Como dizer ao tempo que o tempo nem se afasta nem se aproxima, apenas permanece?

quarta-feira, 22 de junho de 2011

"A vida oscila como um pêndulo, da direita para a esquerda, entre o sofrimento e o tédio"
Schopenhauer

terça-feira, 21 de junho de 2011

"O tempo esculpe
O olhar traiçoeiro
Que o quis parar.
Indo mais além
Instaura o paradoxo
da repetição continuada"

domingo, 19 de junho de 2011

Da imensidão do espaço à redução da cor

Graça Morais

Olhando para lá, muito para além do que os olhos podem alcançar... O cinzento agreste de uma terra e sua gente, calma e tranquila.
A companhia perfeita na imensidão do silêncio entrecortado com a vozearia dos animais que livres vivem nos montes e planícies que bem a trás dos montes querem apenas acalmar o agreste e cinzento dos invernos com os raios de sol multicolores que o rigor do verão matiza na neblina cintilante.   

domingo, 12 de junho de 2011

De como os últimos são os primeiros ou das crianças como Imperadores


A propósito do dia que corre, que é dia do Espírito Santo

Este acontecimento tornado festa deu a Portugal uma das suas mitologias mais ricas e profundas. E fê-lo pela vivência comunitária de um acontecimento originário.
É a criança que se celebra, que se torna Imperador, é a fome que se acaba, é a liberdade que se afirma. Liberdade de corpo e espírito pela bondade das acções e acolhimento do outro. É a alegria, o jogo, a amizade...
Simbolicamente para Portugal e para o mundo esta é uma festa ecuménica, sem predomínio, sem hierarquias, sem uns e outros... Celebrada por alguns, poucos... como acontece com tudo que mais engrandece a humanidade.
Sobre o tema deixo duas quadras de Agostinho da Silva:

"Dará Portugal ao mundo
em céu de amor e de espanto
seu Império do Divino
Divino Espírito Santo"

"Do que é o Espírito Santo
só diga quem fique mudo
que palavra há que me leve
àquele nada que é tudo"


 

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Da solidão

Henry Thoreau (1817-1862) excelente teórico da "desobediência civil", escreveu: "um homem enquanto pensa e trabalho está sempre sozinho, onde quer que esteja".
Ora, como passamos o tempo a pensar e a trabalhar, então, só nos resta concluir que o estado original do homem é a solidão.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Talvez nos devessemos perguntar se o colapso das economias a que assistimos não se deve ao uso de modelos matemáticos/quantitativos e supostamente objectivos, em detrimento de uma análise/acompanhamento mais individual/subjectiva daqueles que tinham por função observar, analisar e antecipar a evolução do mercado e a reacção das pessoas.  

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Alguém, de que agora não lembro o nome disse que "A filosofia diz o que a ciência não pode dizer e a poesia diz o que a filosofia é incapaz de dizer". Significa isto que enquanto a ciência se recusa a ir além do objectivável e a filosofia se fica pelo racionalizável, a poesia abre-se ao não dito e ao irracional, considerando estes "caminhos" como essenciais na compreensão do mundo como um todo.

sábado, 28 de maio de 2011

"A razão é um elástico. Vê se consegues não a esticar muito para não rebentar"

Vergílio Ferreira

quarta-feira, 25 de maio de 2011

terça-feira, 24 de maio de 2011

Rostos nus
tisnados pelo tempo
onde rugas e arrogância
se cruzam no silêncio
do eterno consumado.
Medos traiçoeiros
acautelam seus olhares
em penitente pudor.
Resta apenas
Olhar...
Entrever...
Desejar...
presos ao infinito
de tudo ter
sem nada alcançar.

sábado, 21 de maio de 2011

Esta é a escultura de Cristo que se encontra no interir da nova Basílica de Fátima. Não sei o nome do escultor/a. Também não será preciso.
Porque é esta imagem tão perturbante aos olhos dos fieis comuns? Porque este é um dos Cristos mais belos de Portugal. É um Cristo presente que olha, na proximidade, olhos nos olhos, todos aqueles que com Ele cruzam o olhar. É um nosso igual, um nosso companheiro. Alguém que compreende as nossas dúvidas e partilha as nossas tormentas. É um Cristo humano e por isso atrapalha a visão dos que gostam de esconder, põe a nú os que querem encobrir. Não olha para baixo, nem para o lado. Não está triste nem dorido. Não apela à compaixão mas à alegria. Não se afasta, antes se aproxima. Para além de nosso próximo torna-se nosso igual.
Apenas temos que ser nós mesmos para que Ele seja Um connosco.
Talvez não seja por acaso que é o principal habitante da Basílica do Espírito Santo (ou Santíssima Trindade), conforme a terminologia mais ou menos liberal da Igreja católica.

quinta-feira, 19 de maio de 2011


Participar na festa é sair do tempo quotidiano na intenção de vislumbrar o espaço-tempo original. 
É a visita excepcional e por todos consentida ao fundo de si mesmo.  

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Camilo Castelo Branco, quando passou pela provação do cárcere, escreveu: “Parece que os anjos, para serem felizes, se escondem dos homens”. E os homens para serem infelizes afastam-se uns dos outros. As cadeias prendem os corpos, mas não o espírito. O quotidiano tende agora a enclausurar corpos e espíritos. As novas formas de comunicação facilitam o contacto entre uns e outros, mas confinam-nos à solidão de um clic. Há uns anos atrás usava-se a expressão não vá, telefone. Agora é tempo de promover a sua contrária: não telefone, vá. Os indivíduos comunicam por mensagens sincopadas e assim evitam estar na presença uns dos outros. A afectividade dilui-se nas ondas hertzianas onde a angústia se cruza e a solidão aumenta.
Mas os anjos continuam a sorrir. Com ar alegre e corpos bem proporcionados, depositários de toda a beleza do paraíso, tocam para nós doces melodias, lêem-nos poemas ritmados, brincam à cabra-cega, descansam-nos das correrias desenfreadas… e nós que somos parecidos com eles, tendemos a invejar-lhes tanta felicidade, porque nos tornamos mais adeptos da protecção que nos prometem do que da simpatia que nos causam. Por receio de não saber viver como eles, temos medo de os provocar
Que seria de nós, seres sérios e sisudos, se tivéssemos de viver como os anjos? Como faríamos jus à educação que recebemos, assente no sacrifício e na renúncia, quando, como os anjos, vivêssemos como crianças, onde o ter se nos tornasse um enfado? Não seríamos nada e passaríamos a ser tudo, porque aquilo que somos não nos convém.
Anjos nunca seremos porque fomos nós que os inventamos para suprir as nossas carências, mas podemos ser homens-anjos se reunirmos o melhor que há em cada um em prol de todos. Sendo a nossa natureza boa, procedemos a maior parte das vezes mal. Como não somos capazes de superar as nossas limitações, inventamos seres pelos quais queremos universalizar o que de melhor temos. Compete-nos apenas viver a vida como quem brinca, de preferência sem ocupação nem preocupação. A nossa obrigação é percorrer os esconderijos onde os anjos são felizes para lhes derrubar os muros que simbolizam a barreira entre o que realmente fomos e aquilo em que nos transformamos. Os anjos estão desejosos de voltar a enformar os seus progenitores que somos todos nós.

domingo, 8 de maio de 2011

Quando o outro sou eu

Neste fim de semana na liturgia católica leu-se uma parte do Evangelho de Lucas, 24, 13-35, episódio conhecido por "Discípulos de Emaús".
Dois discípulos de Jesus caminhavam entre Emaús e Jerusalém, comentando os acontecimentos da paixão e morte do Mestre. São interpolados por Jesus, que não reconhecem, e só sabemos que um deles, chamado Cléofas, falou directamente com Jesus, mesmo sem saber que era Ele .
O outro discípulo não é nomeado, porque Lucas quer pôr no lugar dele qualquer um de nós que se interrogue sobre o sentido desta aparição.
Este texto revela que as coisas simples, mesmo que nos pareçam descaradamente presentes, mantêm-se ocultas aos olhos do corpo e às categorias do entendimento. Mostra ainda que o que é mais essencial para cada um, só a interioridade com o auxílio da sensibilidade as podem tornar mais próximas.
Desta forma, o sentido da vida parece-nos distante porque insistimos em procurá-lo no sentido contrário ao que ele se manifesta.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Malhoa, O fado

A propósito da terceira vinda do FMI em menos de 40 anos, convém lembrar o fado português bem representado neste quadro: um povo rude e descuidado, com pouca apetência para o trabalho e muita para a diversão. Pena que até na diversão seja tão patente a lassidão, o desarranjo e o enfado. Afinal tudo isto é fado, tudo isto é Portugal... 

terça-feira, 3 de maio de 2011

do próximo

O próximo não é aquele que me procura mas sim aquele de quem me aproximo: sem condições nem preocupações.

domingo, 1 de maio de 2011

Lima de Freitas

A quem rezam estes homens e mulheres? Qual o valor das suas oferendas? Em que azul do firmamento envolvem os seus olhares? Onde reúnem os seus corpos e repousam as suas almas?

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Para as boas pessoas que para além de todas as trapalhadas, apesar do pessimismo e da desesperança, querem pensar que o mundo é um bom lugar para viver, deixo o seguinte lamento de Miguel Torga:

"Lutara sempre por uma comunidade universal de valores fraternos, por uma ordem social onde a liberdade fosse a lei das leis e a arte o credo dos credos. Mas assistia ao espectáculo degradante de um mundo massificado e agressivo que confundia a liberdade com o seu desejo irresponsável de permissividade e impunidade, incapaz de reconhecer na arte qualquer significação  perene e sagrada. Confiava no triunfo final de um homem livre, ao mesmo tempo singular e convivente, sensível à graça do racional e do irracional, actuando por deliberações lúcidas da vontade e cioso da sua dignidade transcendente".

A crença é para manter, mesmo que esse homem seja cada vez mais uma miragem, mesmo que agradável...

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Da liberdade

Hoje, dizem, é o dia da liberdade. Erro de quem assim pensa. A liberdade é um exercício diário e não a rememoração de um acontecimento. Tem mais a ver com o empenho de cada um para realmente se tornar naquilo que o caracteriza enquanto ser humano, do que com a libertação de qualquer tipo de opressão: física, psicológica, ou de outra espécie. A este propósito já nos lembrou Fichte que "Ser livre não é nada, tornar-me livre é tudo".
E Miguel Torga em poema deixou, para se meditar:

"- Liberdade, que estais no céu...
Rezava o padre nosso que sabia,
A pedir-te humildemente,
O pão de cada dia.
Mas a tua bondade omnipotente
Nem me ouvia.

- Liberdade, que estais na terra...
E a minha voz crescia
De emoção.
Mas um silêncio triste sepultava
A fé que ressumava
Da oração.

Até que um dia, corajosamente,
Olhei noutro sentido, e pude, deslumbrado,
Saborear, enfim,
O pão da minha fome.
- Liberdade, que estais em mim,
Santificado seja o vosso nome".

O resto é conversa sobre como fugir às nossas respnsabilidades do dia a dia.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Da humildade que necessitamos

Thomas Merton, místico e senhor de boas ideias, dirigindo-se a Deus escreveu: "Concede-nos Prudência na proporção do nosso poder, Sabedoria na proporção da nossa ciência, Humanidade na proporção da nossa riqueza e da nossa força".
Só os prudentes podem ser sábios e só estes podem fazer florescer a Humanidade. Todas as coisas são outra coisa para além daquilo que parecem ser. 

quarta-feira, 13 de abril de 2011

A aprendizagem do desaprender

Vergílio Ferreira escreveu: "Levei quarenta anos a explicar coisas aos alunos. Ficou-me assim o vício de explicar, mesmo o inexplicável. Precisava agora de outros quarenta anos para desaprender a explicação do que expliquei".
Estas são as palavras do professor Vergílio Ferreira, que também foi escritor. Assim, a urgente aprendizagem do desaprender, fica mais uma vez justificada. Depois de sujeitos a um demorado processo de ensino e aprendizagem, convém que todos sejam ensinados a desaprender para se livrarem do excesso e retornarem ao essencial que é a relação directa e imediata com a natureza.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Nem ocupação, nem preocupação

Em Lucas, 10-38,42 é-nos relatado um episódio que envolve Jesus e duas mulheres, Marta e Maria: "Jesus entrou numa aldeia. e uma mulher de nome Marta, recebeu-o em sua casa. Tinha ela uma irmã, chamada Maria, a qual, sentada aos pés do senhor, escutava a sua palavra. Marta, porém, andava atarefada com muitos serviços; e, aproximando-se, disse: "Senhor, não te preocupa que a minha irmã me deixe sozinha a servir? Diz-lhe, pois, que me venha ajudar"
O Senhor respondeu-lhe: "Marta, Marta, andas inquieta e perturbada com muitas coisas; mas uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada".
Valor do encontro: substituição do trabalho enquanto castigo pelo lazer; substituição das preocupações do dia a dia, pela disponobilidade para ouvir; elogio ao ócio e condenação do (neg)ócio; elogio do sensível e da contemplação; afirmação da principal qualidade do indivíduo: estar à escuta e disponível para com os outros se tornar Um.    

domingo, 10 de abril de 2011

"Felizes os que apenas amam no fim do amor e que só desejam no fim do prazer"
                                                                                                   Miguel Torga

sexta-feira, 8 de abril de 2011

O futebol clube do porto acabou de ganhar o seu 25º campeonato. Este é talvez o único clube do mundo cujo gosto da vitória assenta num ódio ressentido. Não se percebe como um clube ganhador há mais de duas décadas, continua a fazer do ódio ao seu principal rival, leia-se Benfica, a força da sua vitória: ele são os cânticos soezes de adeptos, jogadores e dirigentes, dirigidos ao Benfica, quer fique em 2º, em 3º ou em 5º, ele são os adereços feitos de propósito com palavrões e injúrias expressamente dirigidas a um só rival, ele é tudo aquilo que se vê... nomeadamente os actos de vandalismo contra a comitiva benfiquista sempre que atravessa o rio douro...
contudo nada disto nos pode admirar uma vez que os dirigentes e a estrutura em que assenta o fcp é exactamente a mesma durante todo este tempo de vitórias. É aquela que promove o ódio e manipula os resultados; que quando é efectivamente melhor ganha e quando não o é, ganha por outros factores que não os desportivos, fazendo-se amigo dos fracos para, simulando ajudá-los, os destruir logo que possa - foi isso que fez ao Benfica, tendo contribuido para o arredar durante anos dos lugares cimeiros, e, depois de muito esforço, quando se ergueu, retornou ao fomento do ódio e da intolerância ante o SLB.
dirigentes e adeptos do fcp não percebem que uma mística e uma marca construidas pelo talento e pelo trabalho se superiorizam a todos os ódios e resistem a todos os ressentimentos, ainda mais quando todo o mundo  tal como todos os portugueses - estão na posse dos factos que provam a manipulação de tantas vitórias por parte desta direcção do fcp.
Podem ganhar tudo, mas continuando a proceder desta maneira, jamais hão-de ganhar o respeito e a consideração dos grandes campeões. Quando os clubes, instituições, indivíduos... são mesquinhos, acabam por amesquinhar o fruto das suas victórias e é isto que este fcp, nunca conseguiu compreender...

   

quinta-feira, 7 de abril de 2011

A propósito do dia que passa

O estadista Marcus Tullius – Roma 55 a. C. -, no decurso de uma grave crise social, escrevia: “O orçamento Nacional deve ser equilibrado. As dívidas públicas devem ser reduzidas, a arrogância das autoridades deve ser moderada e controlada. Os pagamentos a governos devem ser reduzidos, se a Nação não quiser ir à falência. As pessoas devem novamente aprender a trabalhar, em vez de viver por conta pública”. Passaram mais de dois mil anos e não há uma única recomendação nestas palavras que tenha perdido o sentido.
O esbanjamento do capital em políticas meramente eleitoralistas levaram a dívida pública a números incomportáveis; o controlo da sociedade, nomeadamente dos que mais contestam as políticas dos governos, é hoje uma realidade como há muito não se via; O endividamento público e privado sem regra passou a fazer parte do dia a dia, encaminhando-nos a todos, nomeadamente ao chamado Estado social, para a falência; a necessidade de cada vez um maior número de pessoas viver à custa do orçamento do Estado aumenta a números nunca vistos, pois as pensões sociais que deveriam ser provisórias, tornaram-se definitivas e uma larga franja da população já nem sequer admite viver de outra forma.
Em Portugal há centenas de milhares de cidadãos que podendo produzir nada fazem, pois as prestações sociais, ainda que baixas, permitem-lhes o mínimo para a sua subsistência e essas pessoas nada mais desejam. O Estado dá, mas nada pede em troca. Há muito serviço comunitário que podia ser prestado por estes cidadãos – limpeza, jardinagem, preservação dos edifícios públicos, serviço ao próximo, apoio a instituições de solidariedade social… - e assim haveria uma retribuição social pela prestação que recebem. Mas o Estado nada lhes exige. 
Nas democracias ocidentais os cidadãos apenas reclamam os seus direitos, esquecendo-se que qualquer carta de direitos traz anexada e dela depende, a respectiva carta de deveres. Os Estados modernos permitem-se controlar a totalidade da vida de cada um e, como democraticamente se alimentam dos votos, não querem contrariar os propósitos dessa massa enorme a que se chama “excluídos” que vai mantendo a mediocridade no poder.
A continuar assim brevemente os Estados entrarão em banca rota, pois na ânsia de dar tudo a todos, nada sobrará para ninguém. A solução para debelar as contradições das democracias reside no cumprimento integral das Constituições. O indivíduo deve ser o motor da vida em sociedade e esta tem de o acolher no lugar devido. Reclamar direitos implica o cumprimento de deveres e pôr estes de parte será o mesmo que a auto-exclusão desses cidadãos dos compromissos a que a vida societária obriga: aos mais afortunados, o dever de produzir riqueza para ser distribuída de forma razoável e proporcional – mas nunca igual -  por aqueles que a produzem; aos menos afortunados, garantir-lhes condições mínimas de vida, mas exigir-lhes em troca que se responsabilizem pelos bens públicos que temporariamente estão à sua guarda. Se lhes for dada habitação têm de cuidar dela como se deles fosse, e se assim não procederem perderão imediatamente esse direito; se lhes for concedido qualquer subsídio social, devem, obrigatoriamente, contribuir com o seu trabalho para a melhoria da vida em sociedade…
Na vida nada é dado, tudo é conseguido pelo esforço individual e se bem que cada um tenha os seus dons, também não deixa de ser verdade que esses dons têm de ser exercidos em benefício de todos. O igualitarismo puro e simples já deu provas de que não serve a maior parte dos cidadãos que gostam de afirmar e ver reconhecida a sua diferença. Os que por qualquer motivo não podem contribuir com o seu trabalho para o bem da sociedade, crianças, doentes, deficientes, idosos… têm, em qualquer caso, de ver garantidas e melhoradas as prestações sociais. Mas para que isso seja possível, todos aqueles que recebendo e podendo, nada dão à sociedade, não podem continuar a beneficiar de um bem que é de todos e para o qual se recusam a contribuir na exacta medida das suas possibilidades.
A omnipotência dos Estados modernos deveria exigir que se colocasse nos lugares públicos, em sítio bem visível, a máxima que todos os cidadãos devem interiorizar desde o nascimento até à morte: O Estado somos todos nós e é nossa obrigação cuidar dele na exacta medida das possibilidades de cada um. Só desta forma poderemos garantir um mundo melhor para as gerações que nos sucederem.

Artur Manso

domingo, 3 de abril de 2011

Este é o tempo dos odores primaveris. Manhãs perfumadas com o cheiro a esteva e a rosmaninho, confundidos com o desabrochar das margaridas e dos amores perfeitos que na frescura dos lagos se mostram em esplendores variados.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Mesmo com o sol a brilhar, o tempo continua com muitas nuvens: no interior e no extrior de si mesmo.
Um vai-vem constante e vertiginoso coloca os indivíduos distantes de si mesmo e esquecidos do seu próximo.
Artur Manso

quinta-feira, 31 de março de 2011

para os comuns

"Se um homem não acerta o passo com os seus companheiros é porque talvez ouça um tambor diferente. Deixai-o marchar conforme a música que ouvir, ainda que lenta e distante"
Henry Thoreau (1817-1862)

quarta-feira, 30 de março de 2011

pensamento do dia

"'O inferno são os outros' - disse Sartre. E é sobretudo por isso que se usam óculos escuros"
Virgílio Ferreira

Para iniciar

veremos o que fazer com este canto, sem encanto e com realismo onde se procura e quer partilhar.