sexta-feira, 19 de abril de 2013

O Desterrado Enquanto Símbolo da Portugalidade

 Este é o Desterrado, bela escultura de Soares dos Reis (1847-1889), realizada em  Mármore de Carrara, Itália em 1872.
O realismo que encarna, pode e deve ser observado enquanto alegoria do Ser português. É um cidadão português, de espírito ou em fase "estrangeirada" que lhe dá as formas perfeitas e a coloca em pose amargurada.
Não me parece que esteja a meditar no que quer que seja, mas sim a lamentar a sua condição como indivíduo (desterrado num país estrangeiro) e a particular situação da sua terra, Portugal. 
O nome adequa-se à interpretação: o português tem todas as qualidades que admira nos outros povos, mas as condições políticas em que Portugal tem vivido ao longo dos tempos são marcadas pela mediocridade que impede cada um de afirmar a sua individualidade e a sua pertença ao mesmo povo. 
Os políticos portugueses têm transformado a nossa Nação num país pequeno (reduzindo-o ao tamanho das suas fronteiras), que vive de importações e da exaltação dos produtos estrangeiros, que não permite aos seus cidadãos condições de afirmação, que despreza o que cria e vangloria o que lhe chega de fora.
Portugal desde há muito que vendeu a sua alma e paradoxalmente é preciso ir lá para fora para perceber a grandeza da mesma.  
O olhar triste e desanimado, que penetra o escuro da terra desta bela criatura é o fado do nosso povo que se autoflagela e se exclui por vontade própria de assumir o lugar que lhe pertence junto aos outros povos: lugar de igualdade e não de submissão, lugar de farol e não de densa bruma. 
 
A Manso
   

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Mar


 DAS ÁGUAS ENTRETANTO PERCORRIDAS

Sofia Melo Breyner esceveu no poema Inscrição

“Quando eu morrer voltarei para buscar

Os instantes que não vivi junto do mar”

Este mar imenso que os portugueses ousaram desafiar. Sabiam de onde partiam sem saber onde iriam chegar mas nem os tormentos da alma, nem as dores do corpo os retiveram nos areais onde, nem as musas encantavam nem as almas repousavam.

O mar garantia a réstea de esperança que, mesmo nas situações mais difíceis, nunca abandona os indivíduos. E se há esperança, o melhor é não esperar. E se há sonhos, o melhor é sonhar. É verdade que quem nada tem, nada pode perder, mas também é verdade que pela inacção nada acrescentará àquilo que já encontrou. O mar é universal, antes de ser português, mesmo que Fernando Pessoa entenda que o seu sal são as lágrimas do nosso povo.

Não é certo que a partida para o mar se deva apenas a questões de ordem económica e geográfica. Não é certo que o mar não sussurre ao ouvido de cada um que do interior ao litoral aprende desde pequenino a “escutá-lo” através de simples búzios que são transportados da costa para os mais recônditos lugares do interior e aí, na pertença de tantos que nunca o viram nem imaginam a sua vastidão, são com frequência encostados ao ouvido para escutar, diz-se, a agitação ou a calmaria que em cada momento se vier a encontrar.

O mar fala a língua de todos mas une a da lusofonia. De um extremo ao outro do mundo, em todas as rotas e continentes, o mar fala a nossa língua porque a aprendeu a pronunciar há muitos, muitos anos. Esteve sempre habituado a escutar os mais variados dialetos. De costa a costa ouvia-se e dizia-se, mas confinava-se tudo a um pequeno espaço. Com os portugueses o mar abriu-se ao mundo para abraçar toda a terra. Desde há muito que a terra estava lá e era rodeada pelo mar, mas foi o pequeno povo luso que quis trazer ao conhecimento aquilo que ainda não se conhecia.      

O mar foi durante séculos a estrada entre povos e culturas, em tempos que, periclitantemente os barcos cortavam as suas ondas e desafiavam os seus intentos.

A.      Manso