domingo, 1 de fevereiro de 2015

Sobre escola e exames



Quando se fala de desvio de notas entre exames e avaliação escolar considerada contínua, costuma-se sempre, entre nós, culpar o ensino privado por causa dessa inflação. contudo, tal raciocínio não é correcto.
Em primeiro lugar o desvio de notas entre a frequência e o exame até pode estar de acordo com boas práticas avaliativas. As escolas fazem avaliação sumativa ao longo dos nove meses que dura um ano lectivo. é por isso suposto que a classificação reflita todo o período - tal como advém da lei - e não apenas a média aritmética dos testes sumativos que se realizam - esse procedimento é que infelizmente se opõe ao sentido da lei, mas pelos vistos parece ser o único que se tem em conta quando se avalia o produto das aprendizagens - os exames nacionais avaliam apenas o produto, nada aferindo acerca do processo.
Se o Estado acha que a forma de cálculo da média de entrada no ensino superior não é a mais adequada, que a modifique, como aliás já fez por diversas vezes, agora confundir um ciclo de avaliação com um exame final é que não me parece razoável.
A procura por uma educação mais eficaz que apenas e quase só produz os resultados esperados, isto é, a entrada num curso superior que o aluno ache adequado para desempenhar uma determinada profissão no futuro, não tem nada de perverso. É um processo que vem de tempos remotos, dos primeiros professores assim entendidos, os Sofistas, a quem se opôs Sócrates com poucos resultados até hoje.
Aliás, sobre a eficácia escolar que cada um procura ao longo da vida de estudante, o autodidacta Rousseau escreveu no Discurso sobre as ciências e as artes (1749): “Vejo, por toda a parte, imensos estabelecimentos onde se educa a juventude por preços exorbitantes, para lhe ensinar todas as coisas, exepto os seus deveres. Vossos filhos ignoram a sua própria língua mas falarão outras que não se usam em parte alguma; saberão fazer versos que mal poderão compreender, sem saber separar o erro da verdade. Possuirão a arte de os tornar irreconhecíveis aos outros por meio de argumentos especiosos; mas, as palavras magnanimidade, equidade, temperança, humanidade, coragem, eles não saberão o que são; o doce nome da pátria jamais lhes impressionará os ouvidos; e, se ouvirem falar de Deus, será menos por aprendê-lo do que por temê-lo”. 
mais palavras para quê se a escola, a educação e a formação são procuradas apenas pelo proveito que podem gerar e não pelos homens e mulheres que podem formar. A escola apenas reflecte a natureza humana: a necessidade de mandar e o desejo de possuir.