sábado, 30 de maio de 2015

Voltar ao lugar de onde se procedeu



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Aqui fica um belo poema sobre a Redenção ou do encontro de cada um com a parte que lhe cabe no Todo.

Redenção

I
Vozes do mar, das árvores, do vento!
Quando às vezes, n'um sonho doloroso,
Me embala o vosso canto poderoso,
Eu julgo igual ao meu vosso tormento...

Verbo crepuscular e íntimo alento
Das cousas mudas; psalmo misterioso;
Não serás tu, queixume vaporoso,
O suspiro do mundo e o seu lamento?

Um espírito habita a imensidade:
Uma ânsia cruel de liberdade
Agita e abala as formas fugitivas.

E eu compreendo a vossa língua estranha,
Vozes do mar, da selva, da montanha...
Almas irmãs da minha, almas cativas!

II

Não choreis, ventos, árvores e mares,
Coro antigo de vozes rumorosas,
Das vozes primitivas, dolorosas
Como um pranto de larvas tumulares...

Da sombra das visões crepusculares
Rompendo, um dia, surgireis radiosas
D'esse sonho e essas ânsias afrontosas,
Que exprimem vossas queixas singulares...

Almas no limbo ainda da existência,
Acordareis um dia na Consciência,
E pairando, já puro pensamento,

Vereis as Formas, filhas da Ilusão,
Cair desfeitas, como um sonho vão...
E acabará por fim vosso tormento.

Antero de Quental

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Da beleza da(s) leitura(s)



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Três livros, uma história comum. Exercício criativo de Ana Catarina Manso




"Porto, 1 de Junho de 2015


 


Prezado Retrato do Excelentíssimo Senhor Dorian Gray,


 


Gostaria de iniciar esta missiva, dando-lhe a conhecer um pouco de mim. Sou Liesel Meminger, protagonista da obra A rapariga que roubava livros, de Markus Zuzak. Certa de que nenhum dos seus amigos teve a oportunidade de lhe aconselhar as páginas da minha vida, creio ser importante referir que sou apaixonada pela literatura. Como costumo afirmar, quando se fecha um livro, abre-se a vida, portanto, caso estes desaparecessem, o Homem também não sobreviveria, pois não teria um arrimo estável e seguro em que se apoiar nos momentos de tempestades; não teria uma janela através da qual se poderia evadir para a infinidade enigmática dos formatos das nuvens; não teria um Mestre para lhe dar os mais proveitosos conselhos; não teria a Lua, o Sol, o mar e as estrelas. Como tal, sinto que ler é um exercício para a alma, que a faz desenvolver-se progressivamente. Sou, ainda, uma menina destemida, lutadora e sensível, essencialmente devido à força que os livros exercem no meu interior.


 Quanto aos meus traços físicos, não precisa de os conhecer. Já tem em si toda a beleza do mundo, a formusura do jovem Dorian Gray, apenas precisa de purificar a sua alma. E é precisamente devido à razão acabada de mencionar que lhe escrevo esta epístola. Os quadros também têm alma, e a sua corresponde à do fútil e ignóbil moço que conquistou todas as damas do século XIX pela sua beleza estonteante. Sinto, assim, que o seu espírito necessita de sofrer uma metamorfose, de se renovar como eu sempre me transformo quando me deixo envolver pela magia dos livros.


Deste modo, gostaria de lhe falar um pouco acerca da última obra que li: O deus das moscas. Esta narrativa remete-nos para a história de alguns rapazes ingleses que sobrevivem à queda de um avião. Encontrando-se numa ilha deserta, têm que se organizar e orientar por regras de forma a que consigam obter alimento e, simultaneamente, procurar a saída para o problema com que se encontram confrontados. No entanto, tal como Dorian Gray, deixam-se levar pelo caminho da disputa e da morte, que, não só os conduz à perda de valores, como também os afasta da “chave” de saída, uma vez que se dividem em dois grupos que se guerreiam. Assim, presos numa ilha deserta, acabam por matar, primeiro, Simão, um rapaz inocente e, seguidamente, o Bucha, um menino descriminado pelo seu aspeto físico. O protagonista é capaz de esquecer o medo, a fome e a sede e, tornando-se o próprio medo, medo desesperançado em pés que voam, acaba por ser surpreendido com o oficial que surge no seu caminho para o proteger de quem o queria ferir.


Todos no meio de impetuosas tempestades interiores, acabam por perceber, que, como Rafael afirmava, “O medo não pode ferir mais do que um sonho”. Assim, mesmo no meio de um apavorante ambiente de violência e crueldade, caindo em si, assustam-se com as suas próprias atitudes e arrependem-se de todos os atos praticados. Rafael, rodeado pelas chamas flamejantes dos seus inimigos, acaba por perder todos os seus amigos e cair nas mãos dos adversários que o pretendem matar, correndo desalmadamente atrás dele. Consequentemente, tal como Dorian Gray, os rapazes que guerreiam o grupo de Rafael, perdem a sua alma face à situação em que se encontram, deixando a sua humanidade para trás. No entanto, são capazes de a recuperar aquando do desenlace da obra, pois choram de arrependimento. Deste modo, também Dorian cai em si e, consciente que a desgraça o segue quer para onde ele vá, termina a sua vida de criminalidade, e parte para uma outra em que a sua alma aprenderá a ser pura e bondosa. No entanto, para tal, o rapaz teve que deixar as imperfeições da passagem dos anos aflorar à sua pele, para que o seu interior se pudesse purificar. O eterno Dorian Gray, pôs termo à sua beleza, mas prevalece, vivendo no seu retrato. Portanto, o retrato de Dorian Gray não pode, de novo, tornar-se repugnante e hediondo, é necessário pôr os olhos nos meninos e deixar as lágrimas escorregar pelos olhos, límpidas e sinceras, para que, quando a última cair, a dor desapareça, ficando no seu lugar uma caixinha com um pozinho mágico que, aos poucos, vá escorregando para o espírito do jovem, ajustando os seus valores, alterando o seu modo de pensar e agir.


Na verdade, também Dorian Gray foi um Deus das Moscas, uma vez que, apesar de todos ficaram deslumbrados com a sua beleza física, atrás dela estava o mais indigno, repugnante, fútil e hediondo. No entanto, Dorian Gray vive ainda atrás da sua tela, e terá a eternidade para purificar o seu espírito. Todos nós somos uma lua e temos uma fase escura que nunca mostramos a ninguém, mas, pouco a pouco, é necessário deixar a luz do dia preencher a escuridão. Na verdade, a alma é algo que o fogo não pode destruir; que as águas não podem maltratar; que o vento do meio-dia não pode secar. Somente vencendo o fogo, a água e o vento é que conseguirá modificar o seu espírito. Os rapazes, presos numa ilha deserta, apesar de praticarem atos cruéis, criam laços de amizade entre si, protegendo e zelando pela segurança dos seus companheiros. Mesmo PRESOS numa ilha deserta, são capazes de ver as FLORES DA ESPERANÇA nascer, as quais lhes dão alento e, confiantes, nunca desistem de encontrar uma saída. De um modo idêntico, em Dorian Gray, cuja alma hedionda se encontra PRESA num quadro, nascem as FLORES DO ARREPENDIMENTO, sendo elas a chave que abre qualquer fechadura. Igualmente, eu, Liesel Meminger, PRESA numa cave sombria, em plena Segunda Guerra Mundial, assisti ao desabrochar das FLORES DA AMIZADE, uma vez que tive a oportunidade de conhecer Max, um judeu que se refugiou na minha cave por forma a sobreviver às perseguições Nazis e que, pouco a pouco, se foi tornando no meu grande e fiel amigo. No entanto, todos conseguimos encontrar a SAÍDA para as nossas prisões. Os rapazes são salvos por um oficial que lhes abre caminho para a civilização; o Senhor Dorian Gray acaba com a sua vida de criminalidade, destruindo a sua alma ignóbil para que, numa outra vida, possa renovar o seu espírito; eu, Liesel Meminger, encontro Max, recuperando a alegria que  no meu coração faltava. Deste modo, todos conseguimos escapar das nossas GAIOLAS, alcançando a liberdade. A propósito, vou aqui deixar as sensatas palavras de Miguel Torga que mostra, precisamente, que a liberdade depende somente do nosso desejo de a atingir.


Conquista


Livre não sou, que nem a própria vida
Mo consente.
Mas a minha aguerrida
Teimosia
É quebrar dia a dia
Um grilhão da corrente.

Livre não sou, mas quero a liberdade.
Trago-a dentro de mim como um destino.
E vão lá desdizer o sonho do menino
Que se afogou e flutua
Entre nenúfares de serenidade
Depois de ter a lua! 


            Vamos agora viajar um pouco pelos caminhos de A rapariga que roubava livros. Markus Zuzak conta-nos a minha história, a história de Liesel Meminger. Fui entregue pela minha própria mãe a uma família de acolhimento alemã no decorrer da Segunda Guerra Mundial, após uma longa viagem de comboio em que o meu irmão não conseguiu resistir ao frio que se fazia sentir. A sua pele pálida, os seus olhos de um azul profundo imóveis, os seus lábios rosados preenchem muitas das minhas noites.


 Privada de quase tudo, aprendi a ler nos livros que, ainda fumegantes, roubava das fogueiras nas praças públicas, os quais me permitiam refugiar-me da dor que sentia ao assistir às perseguições a comunistas, como aos meus pais inocentes, a judeus, como ao meu amigo Max, e a todas as vozes que deixassem transparecer sombra pelas ideias e atitudes nazis, nomeadamente ao meu querido pai de acolhimento, Hans Hubberman.


Pude saborear o gosto de verdadeiras amizades e, até, do amor a despontar, como uma rosa na primavera. Rudy era um menino com os cabelos cor de limão e os olhos de um verde garrido e brilhante, que irei sempre relembrar. Foi o meu primeiro amigo e a minha primeira paixão, com quem passei os meus dias, brincando na neve gélida.


 As palavras tornavam-me mais forte e destemida para seguir em frente e apagar o lume que caia do céu e originava um arrepiante e avassalador caos. Será que fui capaz de as organizar de forma a construir uma história feliz?


A verdade é que, certo dia, quando Max já tinha partido para Dachau, encontrava-me na cave onde, outrora, com ele tinha passado os meus dias, envolta numa história acerca de um marinheiro que descrevia a vida como sendo um bacalhau, algo realmente valioso e com um sabor maravilhoso, quando, de súbito, ouvi um enorme estrondo. Lembro-me de ter tentado ir ter com o papá, mas nas escadas uma enorme labareda cintilante impossibilitou o meu caminho, por isso, limitei-me a tapar os ouvidos com as mãos. Fosse aquilo o que fosse, pressenti que era o fim da minha vida naquela casa. Senti o meu rosto ficar húmido com as límpidas e sentidas lágrimas que me iam escorregando pelas faces, até que perdi os sentidos. No dia seguinte, acordei rodeada por cadáveres das pessoas que tanto amei. Primeiro deparei-me com uns cabelos grisalhos amarrados num puxo desajeitado. Era a mamã, com as mãos rugosas juntas ao peito, dormindo profundamente. Tentei acordá-la, mas as suas pálpebras mantiveram-se imóveis. Senti um nó na garganta e surpreendi-me com os meus próprios gritos de aflição. Nunca pensara que a minha voz suave fosse possível de produzir sons guturais, desumanos. Deixei-me cair ao lado da mamã e murmurei ao seu ouvido tudo aquilo que precisava de lhe dizer antes de a deixar para trás. Toquei no seu rosto áspero e pude sentir o seu coração mais macio do que nunca. De seguida, levantei-me, olhei de novo para trás e segui em frente, procurando o papá e Rudy. De súbito, senti-me tropeçar numas mãos, mãos que nunca haveria de esquecer. Os dedos estreitos e compridos que se haviam entrelaçado nos meus, vezes sem conta. Era o papá, com os olhos fechados, envolto num sono profundo. Desta vez, deitei-me a seu lado esperando ouvir o bater tranquilizante do seu coração. Mas nada. A dor intensificou-se, senti uma espada trespassar-me todo o corpo. Ele não estava só a dormir. Nem ele, nem a mamã. Atirei-me para ele, tentando realizar as complexas manobras que os médicos executam para reactivar o batimento cardíaco, mas o corpo mantinha-se imóvel. Hans não respirava, estava morto. Eu também não sentia a minha respiração, apenas sentia uma dor no peito que me impedia de mover, mas tinha que ir à procura de Rudy, ele devia estar a precisar de mim. Fiz uma festinha nos cabelos grisalhos do meu eterno papá, e segui caminho, por entre milhares de corpos. Rudy. Avistei-o, deitado no chão, a alguns metros de distância. Deveria estar a brincar comigo, a fazer-se de morto para conseguir o beijo que nunca lhe havia dado. Corri, tão rápido quanto me foi possível até atingir aquele menino com pouco mais de um metro de altura. De olhos bem abertos, que transpareciam o profundo azul do oceano e peito imóvel não aparentava estar vivo, mas a qualquer momento ele iria acordar. Ele tinha que acordar. Deitei-me a seu lado durante um longo momento, até que um homem de meia-idade, com um ar pálido e taciturno me estendeu a mão. Não, eu não iria embora dali sem Rudy, tínhamos que esperar por que ele acordasse. De súbito, vi chegar uma série de médicos que colocaram o meu grande amigo numa maca e começaram a levá-lo para longe de mim. Que é que eles pensavam que estavam a fazer? Rudy iria acordar e eu queria ser a primeira pessoa que ele visse. Eu precisava daquele menino mais do que nunca, e, de súbito, o meu mundo caiu, e nada o iria conseguir erguer de novo. “Ele está morto”, lembro-me de ouvir um médico com uma bata suja dizer. Recordo-me  absolutamente da minha reacção a essas palavras. Ri-me, ri-me durante uns segundos, para não chorar. E quando comecei a sentir o rosto ficar humedecido, soltando terríveis gritos de dor, o general estendeu-me a mão. Tinha que sair dali, não aguentava mais olhar para as pessoas que mais amava e que, de repente, me haviam deixado sozinha. Aquilo tinha que ser um assombroso pesadelo do qual, mais cedo ou mais tarde, iria acordar. Naquele momento, soube que havia uma última coisa a fazer, antes de abandonar aquele local, recheado de cadáveres sobre os quais se erguiam olhos profundamente tristes. Inclinei-me para Rudy e deixei os meus lábios roçar nos seus, sussurrando-lhe ao ouvido as palavras que me surgiram no momento. O beijo que ele sempre me pedira, havia-lhe sido, finalmente, entregue. Seguidamente, segui com o general, apertando a sua mão com força como se assim a dor que sentia diminuísse. Agora, passaremos à frente a mágoa, avançarei um pouco na história da minha vida. Passei a viver em casa do Presidente da Câmara, que possuía uma enorme biblioteca nas quais passavam os meus dias, subindo a montanhas, mergulhando em inauditas águas misteriosas, voando pelos céus. Até que, certo dia, pude realmente sentir-me de novo feliz. Estava na loja do pai do Rudy, a conversar com o pobre homem que perdera toda a sua família quando se encontrava na guerra, até que, de súbito, alguém que nunca seria capaz de esquecer, abriu a porta e, com um enorme sorriso no rosto, correu até mim, abraçando-me. Nesse momento, pude, finalmente, sentir-me feliz nos seus braços. Deixei todas as lágrimas que estava a aguentar cair, mas nesse momento, já não eram apenas lágrimas de tristeza. Eram essencialmente de felicidade, pois fora capaz de recuperar Max, o meu eterno amigo.


Assim, prezado retrato do Senhor Dorian Gray, pretendo mostrar-lhe que, mesmo quando nos sentimos verdadeiramente perdidos, acaba sempre por surgir uma bússola que nos orienta e leva a atingir a felicidade. Nada é impossível, por isso, abro-lhe agora caminho para alterar a sua alma, pois temos, deveras, que nos tornar na mudança que queremos ver. Aqueles que olham somente para o passado ou para o presente, irão, perder o futuro, portanto, é necessário criar no presente aquilo que mudará o mundo no futuro. Para que deixar para amanhã o que podemos fazer hoje? Seja a mudança que quer ver no mundo. O jovem Dorian Gray, que vive atrás do quadro executado por Basílio Hallward, não pode ter medo da mudança, tem é que recear que nunca nada mude, pois estou certa de que ele será capaz de alterar a sua alma, anteriormente imunda e repugnante, tornando o seu espírito puro e admirável. Tenho consciência de que tenho que ser o espelho da mudança que lhe estou a propor e, também eu, para mudar o mundo, tentarei alterar em mim aquilo que sinto que não está tão bem. Acima de tudo, é necessário sermos amáveis, dignos de ser amados, para que “o mundo pule e avance como bola colorida entre as mãos de uma criança”. Veja os problemas como oportunidades para a mudança, para a renovação interior. Exteriormente, Dorian Gray já apresenta uma beleza infinita, mas o mais belo é distribuir felicidade por muitas pessoas.


Na verdade, quer O Deus das Moscas, quer O Retrato de Dorian Gray foram obras que salvei das flamejantes fogueiras em que se incineravam milhares de livros considerados impróprios para a sociedade. Salvei estes tão grandiosos livros, como espero também salvar a alma de Dorian Gray. “Que é que ganha ganhando o mundo todo mas perdendo a sua alma?”, Lord Henrique, seu tão fiel amigo, colocou-lhe precisamente esta questão. Entretanto, espero que já tenha compreendido que é mais fácil viver sem vícios e prazeres constantes do que sem alma, uma vez que, a alma é aquilo que nos torna humanos, que faz de nós seres únicos, capazes de experimentar diversas emoções.


Gostaria de terminar esta missiva, dizendo que a vida é um quadro em branco e todos nós temos a possibilidade de fazer dela uma obra prima. O retrato é agora a casa de Dorian Gray e, certa de que o jovem será capaz de purificar o seu espírito de forma a que o quadro não seja apenas belo, como, acima de tudo, cristalino, em breve irei visitar Tate Modern Museum, para que possa contemplar o novo retrato de Dorian Gray.


Subscrevo-me atenciosamente.


Com o maior respeito,
            Liesel Meminger


Ana Catarina Manso - 14 anos

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Da alegria do futebol

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Como milhões de portugueses, sou benfiquista. Não sei porquê. nasci em Trás-os-Montes e por lá cresci. Os putos dos bairros, que no tempo ainda os havia, dividiam-se em benfiquistas e sportinguistas, quase sempre. havia um ou outro que se dizia portista, como não podia deixar de ser.
O meu irmão que era mais velho era sportinguista, logo eu teria que ser benfiquista. Normalmente os irmãos não pertenciam ao mesmo "bando", nem futebolístico, nem outro.
Quando entrei na vida adulta ainda o Benfica disputava finais europeias e restantes competições. Depois assisti a um longo calvário, que aliás se adivinhava com as jogadas dos homens do norte, capitaneados pelo sr Pinto da Costa. Custou-me imenso ver como a sabedoria de uns serviu para reduzir o Benfica a um gueto que quase "fechou". Culpam o vale e Azevedo, mas não me posso esquecer em termos desportivos, como o sr Pinto da Costa manipulou presidentes simpáticos como Manuel Damásio que também contribuíram para o definhamento desportivo do clube.
Habituei-me, agora, de há uns anos para cá, a ver os frutos de uma recuperação do estado quase de coma para uma vigília atenta. 
Não fora os nossos próprios erros e alguma arrogância desnecessária e poderíamos estar a festejar o tetra. Talvez a seguir... Para já festejamos o que vamos conseguindo com sangue, suor e lágrimas. Ainda há muitos obstáculos, mas uma vez recuperado o estatuto convém continuar a trabalhar com humildade e respeito pelos adversários e então o futuro poderá ser o regresso ao bom passado, ao das alegrias que resultam da competência, da humildade e da força daqueles muitos milhões de portugueses que nunca deixam de acreditar, mesmo ante as maiores adversidades.
Parabéns  Benfica e benfiquistas.