domingo, 23 de outubro de 2016

Uma voz para nos embalar no entardecer da vida

Da lírica que embala o fim.
O conforto e a harmonia que há-de unir o tempo e a eternidade no desconhecido que nos ampara.
Um disco e dois poemas que nos enlaçam na partida.


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A Morte

A morte vem de longe 
Do fundo dos céus 
Vem para os meus olhos 
Virá para os teus 
Desce das estrelas 
Das brancas estrelas 
As loucas estrelas 
Trânsfugas de Deus 
Chega impressentida 
Nunca inesperada 
Ela que é na vida 
A grande esperada! 
A desesperada 
Do amor fratricida 
Dos homens, ai! dos homens 
Que matam a morte 
Por medo da vida.

       Vinícius de Moraes


A Morte Chega Cedo

A morte chega cedo, 
Pois breve é toda vida 
O instante é o arremedo 
De uma coisa perdida. 

O amor foi começado,
 
O ideal não acabou, 
E quem tenha alcançado 
Não sabe o que alcançou. 

E tudo isto a morte
 
Risca por não estar certo 
No caderno da sorte 
Que Deus deixou aberto. 

                     Fernando Pessoa

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

O Pudor dos sem pudor. A autarquia do Porto e o assalto aos cidadãos

Agora o caso dos parquímetros. É legítimo as autarquias sitiarem os seus moradores?

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Os moradores da cidade portuense, veem-se, novamente, penalizados por mais umas taxas: o alargamento indiscriminado dos parquímetros.
estamos todos de acordo que é necessário por alguma ordem no estacionamento. Contudo o que se passou com o aumento de lugares pagos é um ataque aos moradores da cidade. Sei que é difícil arranjar dinheiro para os escandalosos salários dos autarcas (a maior parte deles incompetentes) e as suas mordomias e manter satisfeitos aqueles que os elegem que normalmente moram nos bairros sociais, pagam rendas baixas e têm acesso a quase tudo gratuitamente: festas quase semanais, usufruto de bens socias, etc.
Mas qual é a moralidade (e a legalidade) de o cidadão médio sustentar esta dita democracia?
Sim. A baixa e outras zonas condicionadas devem ter o estacionamento pago. Mas locais junto a praças como a Boavista ou a Velasquez, que para além do mais são espaços que devem ser usufruídos pelas famílias, devem ser taxados? Há muitas famílias que gostam de levar os seus filhos, mesmo quando bebes, ter contacto com a natureza nesses espaços verdes. Se moram a cerca de 1 quilómetro é natural que usem as viaturas. Mas já será natural que para pararem junto a esses espaços, tenham que pagar para estacionar? Desta forma, levar os filhos para a natureza tem logo um custo de cerca de 3 euros de estacionamento. 
Será isto aceitável para os cidadãos, que continuam a ser os mesmos e os únicos que pagam IMIs elevados, taxas diversas entre elas pela rampa de acesso às garagens dos prédios que tantas vezes é invadida dificultando ou impossibilitando a circulação de quem paga um serviço? A camara pelos vistos tem muitos polícias a fiscalizar os parquímetros, mas que nada ligam a esses que invadem o acesso, que também é pago, ou que o dificultam estacionando por largos períodos nas zonas onde o estacionamento é proibido. 
E que dizer quando um habitante a caminho de casa para numa dessas muitas zonas sitiadas de parquímetros vai comprar pão? tem de pagar uma fracção de estacionamento mais cara que o produto que vai adquirir, ou deixar a viatura a dezenas de metros para comprar os 4 pães do costume?
Será lícito que um trabalhador normal que tenha um local de trabalho numa destas zonas, a fazer dinheiro para as taxas e taxinhas, impostos e impostozinhos, tenha que pagar em 8 horas de trabalho cerca de 10 euros de estacionamento diário?
O sr presidente indignado por um estudante o questionar sobre o porquê dos parquímetros junto às escolas superiores terá respondido que quem tem carro, paga IMT, seguro, combustível... então, também pode pagar estacionamento. Com certeza poderia ser assim, se o estacionamento tivesse uma taxa anual por exemplo igual ao IMT. mas pagar por 6 horas diárias que esteja na escola, cerca de 9 euros o que dá cerca de 45 euros semanais, será admissível?
Seria tempo das classes que pagam os desmandos dos autarcas começarem a ter outro tipo de reacção. É inconcebível que nas grandes cidades 15 ou 20% da população continue a sustentar a alta burguesia dos autarcas e seus apaniguados bem como os pequenos agrados daqueles que os mantêm no poder. Se isto é o preço da democracia, eu prefiro um outro governo, que não me tire do bolso praticamente aquilo que ganho para transferir sem qualquer pudor para o funcionamento democrático destas instituições que mais parecem carteis oficiais de extorsão.
Todos os que moram numa cidade são cidadãos de igual valia e todos devem contribuir para o bem comum conforme as suas possibilidades. Mas uns contribuírem com tudo e outros com nada, não é o mais correcto.
 

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Poesia e reencontro

Do homem que procura, desespera e não encontra. A filosofia de alguns e a persistência de muitos. A poesia e o reencontro

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Do sentimento trágico da vida


Não há revolta no homem
que se revolta calçado.
O que nele se revolta
é apenas um bocado
que dentro fica agarrado
à tábua da teoria.
Aquilo que nele mente
e parte em filosofia
é porventura a semente
do fruto que nele nasce
e a sede não lhe alivia.
Revolta é ter-se nascido
sem descobrir o sentido
do que nos há-de matar.
Rebeldia é o que põe
na nossa mão um punhal
para vibrar naquela morte
que nos mata devagar.
E só depois de informado
só depois de esclarecido
rebelde nu e deitado
ironia de saber
o que só então se sabe
e não se pode contar.

Natália Correia


segunda-feira, 11 de julho de 2016

Uma selecção e um país... chamado Portugal no ano 2016

2016, o ano de Portugal... no futebol





O povo quer, os jogadores sonham e o título é conquistado
Os jogadores jogaram, o povo apoiou e transmitiu energia e PORTUGAL foi campeão.
PARABÉNS A TODOS, mas de modo especial aos jogadores e restantes equipas, mais ou menos visíveis.




sábado, 4 de junho de 2016

As asas que embalam o pensamento


Do desejo de planar sobre a existência ou o abismo do que permanece


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lê-se na 'introdução' a este excelente filme:

“Quando a criança era criança,
caminhava de braços pendentes
queria que o ribeiro fosse um rio,
o rio uma torrente, e este charco, o mar.
Quando a criança era criança,
não sabia que era criança
tudo para ela tinha uma alma,
e todas as almas eram uma só.
Quando a criança era criança
não tinha opinião sobre nada,
não tinha hábitos,
sentava-se muitas vezes de pernas cruzadas,
depois desatava a correr,
tinha um remoinho no cabelo
e não fazia ar grave nas fotografias.”


Peter Handke e Wim Wenders: Da ‘Introdução’ ao filme As Asas do Desejo    

Metáfora sobre o que muda e o que permanece na assunção de um crescimento que aumenta o desejo de voar na proporção inversa em que as asas deixam de bater.


domingo, 15 de maio de 2016


Obrigado




A humildade é meio caminho para a conquista.
A paciência vence a arrogância e a competência a soberba.
O grupo supera o indivíduo.
O caminho foi longo, mas chegamos em primeiro lugar, como era nosso objectivo.
vencemos todos e não vencemos contra ninguém.
Vencemos por nós e para nós.

Parabéns ao clube, na sua totalidade, aos adeptos e simpatizantes. 




quinta-feira, 21 de abril de 2016

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O comboio que nos carris roda e retorna e o tempo que vai e não vem

Apenas o tempo que é

Tempo — definição da angústia.
Pudesse ao menos eu agrilhoar-te
Ao coração pulsátil dum poema!
Era o devir eterno em harmonia.
Mas foges das vogais, como a frescura
Da tinta com que escrevo.
Fica apenas a tua negra sombra:
— O passado,
Amargura maior, fotografada.
Tempo...
E não haver nada,
Ninguém,
Uma alma penada
Que estrangule a ampulheta duma vez!
Que realize o crime e a perfeição
De cortar aquele fio movediço
De areia
Que nenhum tecelão
É capaz de tecer na sua teia!
Miguel Torga, em 'Cântico do Homem'

segunda-feira, 21 de março de 2016

Entre o silêncio e o dizer





Não Digas Nada!

Não digas nada! 
Nem mesmo a verdade 
Há tanta suavidade em nada se dizer 
E tudo se entender — 
Tudo metade 
De sentir e de ver... 
Não digas nada 
Deixa esquecer 

Talvez que amanhã 
Em outra paisagem 
Digas que foi vã 
Toda essa viagem 
Até onde quis 
Ser quem me agrada... 
Mas ali fui feliz 
Não digas nada. 

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro" 

sábado, 27 de fevereiro de 2016

Da Liberdade


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John Stuart Mill (1806-1873) o teórico do utilitarismo e da liberdade individual escreve no ensaio Da liberdade que "O único fim para o qual o poder poderá ser devidamente exercido sobre qualquer membro de uma sociedade civilizada, contra a sua vontade, é a prevenção do mal dos outros".
Aqui fica, então, para os totalitaristas de todos os quadrantes a sugestão de uma boa leitura: é que efectivamente todos os governos, mesmo os democratas, exercem o poder para condicionar a liberdade individual e não para prevenir o mal alheio. Como agora as igrejas não têm poderes temporais, os Estados passaram a doutrinar os povos pela superestrutura escolar domando os indivíduos a uma ideia de bem estar geral que não lhes serve nem pretendem. Impõem, portanto, em nome de todos, um modo de vida que poucos escolhem.
As democracias assentam o seu poder na mediocridade do homem médio e no seu seio há os astutos dos partidos e das ideologias que fazem as regras com que se (auto)elegem para a seguir tornar a vida difícil a todos os que não pretendem seguir a regra geral.
É por isso necessário voltar a ler os clássicos, em vez de seguir a turba, ser igual a si mesmo e não mais um "carneiro no meio da manada" da democracia.

sábado, 20 de fevereiro de 2016

Sobre a eutanásia ou do alívio da má consciência


Sobre a eutanásia ou do alívio da má consciência



Este quadro de 1787 intitulado A Morte de Sócrates é do pintor francês Jacques-Louis David e representa a cena de morte do filósofo grego Sócrates que é narrada por Platão no belo diálogo Apologia de Sócrates.
Agora que em Portugal, a intelectualidade resolveu trazer de novo à discussão a necessidade de tornar legal a morte assistida (seja designada de eutanásia, suicídio assistido, ou qualquer outra designação), convém reflectir sobre esta cena porque:
1. mostra que a discussão sobre a eutanásia é uma espécie de alívio de consciência quando não queremos passar maus tempos a cuidar dos nossos: a morte é inevitável e a nossa função, tal como fazem todos os restantes animais é acompanhar os nossos próximos até que a morte naturalmente os visite, em poucas palavras, cuidar uns dos outros;
2. todos temos o direito natural de decidir sobre a nossa vida e isso para mim é um valor absoluto: aquele ou aquela que queira conscientemente matar-se tem todo o direito de o fazer, quer goze ou não de saúde, esteja ou não em estado terminal, pois o Estado não é proprietário da pessoa;
3. os nossos contemporâneos querem legalizar a eutanásia para "lavarem as mãos" ante as decisões que têm que tomar; qualquer um deve ter o direito de ajudar quem quer que seja a morrer, naturalmente desde que as circunstancias o justifiquem e não configurem qualquer tipo de crime, sem que o Estado nada tenha a ver com os actos praticados - a decisão sobre ligar ou desligar uma máquina, dar medicamentos que prolonguem o sofrimento ou uma medicação que atenue a dor é uma decisão que cabe apenas e só à pessoa envolvida, aos médicos que a seguem e aos seus mais próximos;
4. hoje, a morte só é insuportável se não houver cuidados médicos: o cuidado médico deve dirigir-se para o que é natural e não para o artificial, isto é, se um indivíduo está inutilmente ligado a uma máquina o médico deve pura e simplesmente desligá-la, passando-se o mesmo com a suspensão de uma medicação que não serve para nada a não ser prolongar a debilidade existente, mesmo que seja o prolongar da alimentação por meios artificiais, retomando, assim, o decurso natural da vida, que culminará, nas designadas doenças terminais, na morte a breve prazo. aliás quando cuidávamos uns dos outros era isto mesmo que se passava.
5. a dor infinda, o prolongamento da esperança de vida de um doente terminal ou portador de uma doença degenerativa não é devedora de qualquer processo natural mas sim artificial e como a vida e a morte são naturais, basta que ponhamos de lado o artificial (máquinas, fármacos, etc) e tudo será simples, chegando a morte no tempo aprazado que a natureza consentir. 
Sócrates deixou um exemplo óptimo para meditar: a morte é inevitável e perante ela temos que ter uma atitude natural que nos casos extremos como o seu, tem de ser tomada nas próprias mãos. Não se fingiu diminuído, fez questão de levar à boca, com as próprias mãos a cicuta que o haveria de matar. Os adeptos da eutanásia, na sua maioria, são covardes pois não pedem para si ou os seus próximos o direito de ingerir o veneno ou desligar o botão que os há-de matar. Para ficarem com a sua consciência tranquila e daqueles que lhes são próximos, desejam que o Estado satisfaça os seus interesses, designando um profissional que os injecte ou desligue o botão. As decisões fundamentais sobre cada um de nós só a nós dizem respeito e fugir a essas responsabilidades ou querer assacá-las a terceiros, não é um acto humano.

artur manso
 


segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Num jardim com muitas delícias

As delícias e o jardim segundo Bosch


Vale a pena olhar de novo para esta excelente pintura com a explicação de Leonardo Dicaprio, dada ao papa francisco.
Para si este quadro é uma alegoria sobre o desenvolvimento da humanidade e a falta de cuidado do homem com o meio ambiente. Os nossos antepassados abandonaram o Paraíso e todos juntos destruímos o que encontramos. 
Dicaprio conta ainda que a sua exegese lhe surgiu quando criança ao olhar para a reprodução do tríptico que seu pai lhe tinha colocado na cabeceira da cama. Afinal as coisas mais importantes, tal como o Evangelho ensina, são reveladas às crianças e os adultos não querem saber.
 
a manso
 

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Do riso e do juízo



Do que se riem estes senhores? Dos anos em que os seus amigos - e eles próprios - nos levaram a quatro resgates? Do próximo resgate que poderá estar para vir?
Estou farto de políticos risonhos que deixam os portugueses na penúria, que se desculpam com os outros que não lhes querem pagar as dívidas, que vão acumulando fortunas em nome do povo, que distribuem as benesses pelos seus apaniguados para se manterem no poder, que querem um Estado forte para promover os amigos do partido e do sindicato e lixar a vida aos cidadãos honrados e íntegros.
Estou farto de um país de políticos falhados e incompetentes que se sucedem sucessivamente na administração da coisa pública, que esbulham o povo e os trabalhadores e quando as coisas correm mal, apenas dizem: é a vida. agora continuamos com a nossa vidinha. fizemos o que pudemos e fomos julgados nas urnas. nenhum outro juízo nos pode ser assacado. Para democratas e democracias destas o melhor era ter a outra ou o outro, que também governavam com a legitimidade que os votos não lhe davam.  
Se calhar é isso: estes cavalheiros estão a rir-se do gozo que lhes dá um Portugal tão macio. eles e a clientela hão-de sair melhor do que entraram. Os portugueses hão de continuar a comer o pão azedo que já lhe estão a amassar.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Ano Novo ou Novo ano

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Ano novo ou novo ano, para todos um amo tranquilo e propício iniciado com poesia:

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

Carlos Drummond de Andrade
Há aquela parte que nos acontece, mas deve haver a outra que fazemos com que aconteça: agora e sempre o futuro é aquilo que nós quisermos e o futuro é já hoje.