quinta-feira, 28 de abril de 2011

Para as boas pessoas que para além de todas as trapalhadas, apesar do pessimismo e da desesperança, querem pensar que o mundo é um bom lugar para viver, deixo o seguinte lamento de Miguel Torga:

"Lutara sempre por uma comunidade universal de valores fraternos, por uma ordem social onde a liberdade fosse a lei das leis e a arte o credo dos credos. Mas assistia ao espectáculo degradante de um mundo massificado e agressivo que confundia a liberdade com o seu desejo irresponsável de permissividade e impunidade, incapaz de reconhecer na arte qualquer significação  perene e sagrada. Confiava no triunfo final de um homem livre, ao mesmo tempo singular e convivente, sensível à graça do racional e do irracional, actuando por deliberações lúcidas da vontade e cioso da sua dignidade transcendente".

A crença é para manter, mesmo que esse homem seja cada vez mais uma miragem, mesmo que agradável...

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Da liberdade

Hoje, dizem, é o dia da liberdade. Erro de quem assim pensa. A liberdade é um exercício diário e não a rememoração de um acontecimento. Tem mais a ver com o empenho de cada um para realmente se tornar naquilo que o caracteriza enquanto ser humano, do que com a libertação de qualquer tipo de opressão: física, psicológica, ou de outra espécie. A este propósito já nos lembrou Fichte que "Ser livre não é nada, tornar-me livre é tudo".
E Miguel Torga em poema deixou, para se meditar:

"- Liberdade, que estais no céu...
Rezava o padre nosso que sabia,
A pedir-te humildemente,
O pão de cada dia.
Mas a tua bondade omnipotente
Nem me ouvia.

- Liberdade, que estais na terra...
E a minha voz crescia
De emoção.
Mas um silêncio triste sepultava
A fé que ressumava
Da oração.

Até que um dia, corajosamente,
Olhei noutro sentido, e pude, deslumbrado,
Saborear, enfim,
O pão da minha fome.
- Liberdade, que estais em mim,
Santificado seja o vosso nome".

O resto é conversa sobre como fugir às nossas respnsabilidades do dia a dia.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Da humildade que necessitamos

Thomas Merton, místico e senhor de boas ideias, dirigindo-se a Deus escreveu: "Concede-nos Prudência na proporção do nosso poder, Sabedoria na proporção da nossa ciência, Humanidade na proporção da nossa riqueza e da nossa força".
Só os prudentes podem ser sábios e só estes podem fazer florescer a Humanidade. Todas as coisas são outra coisa para além daquilo que parecem ser. 

quarta-feira, 13 de abril de 2011

A aprendizagem do desaprender

Vergílio Ferreira escreveu: "Levei quarenta anos a explicar coisas aos alunos. Ficou-me assim o vício de explicar, mesmo o inexplicável. Precisava agora de outros quarenta anos para desaprender a explicação do que expliquei".
Estas são as palavras do professor Vergílio Ferreira, que também foi escritor. Assim, a urgente aprendizagem do desaprender, fica mais uma vez justificada. Depois de sujeitos a um demorado processo de ensino e aprendizagem, convém que todos sejam ensinados a desaprender para se livrarem do excesso e retornarem ao essencial que é a relação directa e imediata com a natureza.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Nem ocupação, nem preocupação

Em Lucas, 10-38,42 é-nos relatado um episódio que envolve Jesus e duas mulheres, Marta e Maria: "Jesus entrou numa aldeia. e uma mulher de nome Marta, recebeu-o em sua casa. Tinha ela uma irmã, chamada Maria, a qual, sentada aos pés do senhor, escutava a sua palavra. Marta, porém, andava atarefada com muitos serviços; e, aproximando-se, disse: "Senhor, não te preocupa que a minha irmã me deixe sozinha a servir? Diz-lhe, pois, que me venha ajudar"
O Senhor respondeu-lhe: "Marta, Marta, andas inquieta e perturbada com muitas coisas; mas uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada".
Valor do encontro: substituição do trabalho enquanto castigo pelo lazer; substituição das preocupações do dia a dia, pela disponobilidade para ouvir; elogio ao ócio e condenação do (neg)ócio; elogio do sensível e da contemplação; afirmação da principal qualidade do indivíduo: estar à escuta e disponível para com os outros se tornar Um.    

domingo, 10 de abril de 2011

"Felizes os que apenas amam no fim do amor e que só desejam no fim do prazer"
                                                                                                   Miguel Torga

sexta-feira, 8 de abril de 2011

O futebol clube do porto acabou de ganhar o seu 25º campeonato. Este é talvez o único clube do mundo cujo gosto da vitória assenta num ódio ressentido. Não se percebe como um clube ganhador há mais de duas décadas, continua a fazer do ódio ao seu principal rival, leia-se Benfica, a força da sua vitória: ele são os cânticos soezes de adeptos, jogadores e dirigentes, dirigidos ao Benfica, quer fique em 2º, em 3º ou em 5º, ele são os adereços feitos de propósito com palavrões e injúrias expressamente dirigidas a um só rival, ele é tudo aquilo que se vê... nomeadamente os actos de vandalismo contra a comitiva benfiquista sempre que atravessa o rio douro...
contudo nada disto nos pode admirar uma vez que os dirigentes e a estrutura em que assenta o fcp é exactamente a mesma durante todo este tempo de vitórias. É aquela que promove o ódio e manipula os resultados; que quando é efectivamente melhor ganha e quando não o é, ganha por outros factores que não os desportivos, fazendo-se amigo dos fracos para, simulando ajudá-los, os destruir logo que possa - foi isso que fez ao Benfica, tendo contribuido para o arredar durante anos dos lugares cimeiros, e, depois de muito esforço, quando se ergueu, retornou ao fomento do ódio e da intolerância ante o SLB.
dirigentes e adeptos do fcp não percebem que uma mística e uma marca construidas pelo talento e pelo trabalho se superiorizam a todos os ódios e resistem a todos os ressentimentos, ainda mais quando todo o mundo  tal como todos os portugueses - estão na posse dos factos que provam a manipulação de tantas vitórias por parte desta direcção do fcp.
Podem ganhar tudo, mas continuando a proceder desta maneira, jamais hão-de ganhar o respeito e a consideração dos grandes campeões. Quando os clubes, instituições, indivíduos... são mesquinhos, acabam por amesquinhar o fruto das suas victórias e é isto que este fcp, nunca conseguiu compreender...

   

quinta-feira, 7 de abril de 2011

A propósito do dia que passa

O estadista Marcus Tullius – Roma 55 a. C. -, no decurso de uma grave crise social, escrevia: “O orçamento Nacional deve ser equilibrado. As dívidas públicas devem ser reduzidas, a arrogância das autoridades deve ser moderada e controlada. Os pagamentos a governos devem ser reduzidos, se a Nação não quiser ir à falência. As pessoas devem novamente aprender a trabalhar, em vez de viver por conta pública”. Passaram mais de dois mil anos e não há uma única recomendação nestas palavras que tenha perdido o sentido.
O esbanjamento do capital em políticas meramente eleitoralistas levaram a dívida pública a números incomportáveis; o controlo da sociedade, nomeadamente dos que mais contestam as políticas dos governos, é hoje uma realidade como há muito não se via; O endividamento público e privado sem regra passou a fazer parte do dia a dia, encaminhando-nos a todos, nomeadamente ao chamado Estado social, para a falência; a necessidade de cada vez um maior número de pessoas viver à custa do orçamento do Estado aumenta a números nunca vistos, pois as pensões sociais que deveriam ser provisórias, tornaram-se definitivas e uma larga franja da população já nem sequer admite viver de outra forma.
Em Portugal há centenas de milhares de cidadãos que podendo produzir nada fazem, pois as prestações sociais, ainda que baixas, permitem-lhes o mínimo para a sua subsistência e essas pessoas nada mais desejam. O Estado dá, mas nada pede em troca. Há muito serviço comunitário que podia ser prestado por estes cidadãos – limpeza, jardinagem, preservação dos edifícios públicos, serviço ao próximo, apoio a instituições de solidariedade social… - e assim haveria uma retribuição social pela prestação que recebem. Mas o Estado nada lhes exige. 
Nas democracias ocidentais os cidadãos apenas reclamam os seus direitos, esquecendo-se que qualquer carta de direitos traz anexada e dela depende, a respectiva carta de deveres. Os Estados modernos permitem-se controlar a totalidade da vida de cada um e, como democraticamente se alimentam dos votos, não querem contrariar os propósitos dessa massa enorme a que se chama “excluídos” que vai mantendo a mediocridade no poder.
A continuar assim brevemente os Estados entrarão em banca rota, pois na ânsia de dar tudo a todos, nada sobrará para ninguém. A solução para debelar as contradições das democracias reside no cumprimento integral das Constituições. O indivíduo deve ser o motor da vida em sociedade e esta tem de o acolher no lugar devido. Reclamar direitos implica o cumprimento de deveres e pôr estes de parte será o mesmo que a auto-exclusão desses cidadãos dos compromissos a que a vida societária obriga: aos mais afortunados, o dever de produzir riqueza para ser distribuída de forma razoável e proporcional – mas nunca igual -  por aqueles que a produzem; aos menos afortunados, garantir-lhes condições mínimas de vida, mas exigir-lhes em troca que se responsabilizem pelos bens públicos que temporariamente estão à sua guarda. Se lhes for dada habitação têm de cuidar dela como se deles fosse, e se assim não procederem perderão imediatamente esse direito; se lhes for concedido qualquer subsídio social, devem, obrigatoriamente, contribuir com o seu trabalho para a melhoria da vida em sociedade…
Na vida nada é dado, tudo é conseguido pelo esforço individual e se bem que cada um tenha os seus dons, também não deixa de ser verdade que esses dons têm de ser exercidos em benefício de todos. O igualitarismo puro e simples já deu provas de que não serve a maior parte dos cidadãos que gostam de afirmar e ver reconhecida a sua diferença. Os que por qualquer motivo não podem contribuir com o seu trabalho para o bem da sociedade, crianças, doentes, deficientes, idosos… têm, em qualquer caso, de ver garantidas e melhoradas as prestações sociais. Mas para que isso seja possível, todos aqueles que recebendo e podendo, nada dão à sociedade, não podem continuar a beneficiar de um bem que é de todos e para o qual se recusam a contribuir na exacta medida das suas possibilidades.
A omnipotência dos Estados modernos deveria exigir que se colocasse nos lugares públicos, em sítio bem visível, a máxima que todos os cidadãos devem interiorizar desde o nascimento até à morte: O Estado somos todos nós e é nossa obrigação cuidar dele na exacta medida das possibilidades de cada um. Só desta forma poderemos garantir um mundo melhor para as gerações que nos sucederem.

Artur Manso

domingo, 3 de abril de 2011

Este é o tempo dos odores primaveris. Manhãs perfumadas com o cheiro a esteva e a rosmaninho, confundidos com o desabrochar das margaridas e dos amores perfeitos que na frescura dos lagos se mostram em esplendores variados.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Mesmo com o sol a brilhar, o tempo continua com muitas nuvens: no interior e no extrior de si mesmo.
Um vai-vem constante e vertiginoso coloca os indivíduos distantes de si mesmo e esquecidos do seu próximo.
Artur Manso