domingo, 23 de fevereiro de 2014

Uma forma repetitiva de dizer Portugal

 Agostinho de Campos (1870-1944), professor e pedagogo, nos tempos confusos de início do século vinte em Portugal, escrevia:
"O que a Portugal falta, para ser ou voltar a ser uma grande nação, é que cada português seja fiel a si próprio, pela especialização, e fiel ao seu grupo, pela solidariedade. no dia em que esta dispersiva e leviana poeira de homens que atravessa as escolas encontre a boa lei do ritmo, da harmonia e da gravitação nacional, as classes dirigentes da nossa terra deixarão de ser uma nebulosa que atravanca o espaço deixando-o às escuras, para se constituírem num sistema de forças criadoras, em torno às quais as energias da raça, da tradição, da língua e do povo, hão-de consolidar-se em núcleos de vida triunfante. No dia em que o homem culto, dentro da sua órbita, irradie a luz própria da iniciativa e do esforço; e em que cada grupo de homens, nas classes como nas localidades, compreenda que todo o movimento e toda a acção colectiva têm de partir delas próprias, e não do Deus politico, mais apto a destruir do que a criar: nesse dia o nosso querido Portugal sairá do caos em que há tanto tempo se extenua sem produzir, se procura sem se encontrar se perscruta sem se entender; e realizará a sua definitiva harmonia das esferas, aquela afirmação de vontades e de energias, que forma, sustenta e faz medrar as verdadeiras nações.    
Um homem mata outro depressa. Custoso é matar em si próprio um homem que não serve, e fazer nascer lá dentro outro melhor...".
Ora aqui está: desde sempre o que faz um povo forte é a educação das suas gentes, a preparação superior dos seus dirigentes, a ousadia individual de cada cidadão e o abraço solidário entre todos. E em Portugal, na época como quase sempre, o que se verifica é pouco interesse pela educação, uma classe política pouco culta e deficientemente preparada, a sobreposição do indivíduo à comunidade. Porque assim é, torna-se difícil sair da crise quase contínua que em Portugal se prolonga ao longo dos tempos.


quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

A informação que não é pensada

 Sobre tudo e sobre todas as coisas, todos têm opinião. Ele é o buraco de ozono, as alterações climatéricas, a dívida e o défice, a constituição, a escolaridade e o abandono, as praxes, o Miró, isto e aquilo. ele é ver o desfile diário nos programas de opinião pública e os disparates que aí são proferidos. Ele é ver os painéis de indivíduos ressabiados e sindicados, a desfazer de tudo o que seja novo ou se apresente como uma nova via de análise ou resolução dos problemas.
Tudo em nome da opinião. E quando alguém com conhecimento de causa se pronuncia, cai o "carmo e a trindade" sendo o microfone quase logo silenciado. 
A sociedade do conhecimento e da informação decreta a opinião pública como a melhor via para a compreensão da realidade, ignorando o conhecimento e o saber. É verdade que o conhecimento e o seu uso nunca foram uma aposta das sociedades, mas também é verdade que a estrutura actual da sociedade, apenas tem democratizado a ignorância, transformando a opinião em conhecimento.
Dizia Bachelard que "A opinião pensa mal; ela não pensa, traduz os desejos em conhecimento" e é exactamente esta máxima que a sociedade de informação tem vindo a universalizar ao ritmo frenético em que a informação se tem habituado a circular. 
 

domingo, 2 de fevereiro de 2014

A luz dos olhos no dizer do coração

 Em jeito de lembrança dos 100 anos de estreia do primeiro filme de Chaplin, o autor triste que melhor sabia entreter e fazer rir o público, lembrei-me também de uma expressão extraída dos Livros Sapienciais que diz "Deixa o coração guiar-te e os teus olhos dizer-te". Assim se ressalva que o essencial da vida se capta pelo olhar e mora no coração, leia-se no interior de cada um. A sabedoria requer um olhar único - o olhar de cada um de nós na solidão do nosso existir - no vasto repositório de todas as civilizações e culturas.