segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Do Agostinho em torno do destino do Homem

    

Porque em tempos de crise, espiritual e material, convém ler os antigos, deixo aqui um excerto de um texto assinado por Agostinho da Silva e publicado, em tempos, na íntegra, no Blog Cadernos de Filosofia Extravagante 

 

                               Projecto

Agostinho da Silva

A quem chega, esfomeado de sol que não seja apenas uma entidade de cálculo astronáutico; de mar que não seja somente o das velhas imagens de cinza e chumbo; de céu que não evoque fatalmente todos os pessimismos prognósticos de uma poluição em que a humanidade se suicide; a quem vem de todos os medíocres países humanos cujo ideal mais alto parece ser o de constituírem um mercado comum que, dados os pontos fundamentais em que assenta não será mais do que um supermercado de excesso de produção e de consumo em que o que vale é o dinheiro de que cada um dispõe e não a fome que tem para satisfazer; aos que atravessam os Pirinéus, não com as incomodidades e os desastres de quem, por não ser rei em terra própria, vai ser na alheia escravo, mas com os confortos que mais rápida do que lentamente lhes estão destruindo a alma, pelo pecado mortal de ter sempre mais do que precisam e menos do que desejam; a esses tais, indo-europeus, brancos e pragmáticos, que dominaram o mundo e cujo afã é o de organizarem o trabalho de tal modo que ele os obrigue a trabalhar mais; àqueles que estão inquietos pela existência de nações em que ainda o indivíduo existe, as atraem a seu supermercado e já tentam a Espanha, e em que apesar dos desesperos se espera que volte o Rei Artur ou O de Alcácer; a esses todos oferece Sesimbra sol, céu e mar; que os ilumine, os proteja, os embale..." 

Ou seja, por mais que nos custe aceitar, as coisas boas são aquelas que nos são dadas e o que graciosamente nos é dado deveria ser estimado e apreciado, pois o Ser vale mais que o ter, o contemplar vale mais que o produzir, o desejar vale mais do que o possuir.
De uma maneira simples, o mundo está em crise porque o homem tem vindo a inverter as suas prioridades.   

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