quinta-feira, 2 de maio de 2013

Na Mão de Deus também descansam agnósticos e ateus

 Antero de Quental (1842-1891) crítico do sentimento religioso, não pôde, como grande poeta de inspiração mística que realmente foi, deixar de procurar a tranquilidade que parece nunca ter conseguido,  no regaço daquele que tanto gostava de negar.
Tantas foram as palavras inflamadas, tantos os discursos racionais para, no final, em catorze simples versos, poder agasalhar a alma com a tranquilidade que buscava.
Aqui fica o seu belo poema:

Na Mão de Deus

Na mão de Deus, na sua mão direita,
Descansou afinal meu coração,
Do palácio encantado da Ilusão
Desci a passo e passo a escada estreita.

Como as flores mortais, com que se enfeita
A ignorãncia infantil, despojo vão,
Depus do Ideal e da Paixão
A forma transitória e imperfeita.

Como criança, em lôbrega jornada,
Que a mão leva no colo agasalhada
E atravessa, sorrindo vagamente,

Selvas, mares, areias do deserto...
Dorme o teu sono, coração liberto,
Dorme na mão de Deus eternamente!

                                Antero de Quental

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