quinta-feira, 1 de maio de 2014

Portugal como destino










Escreve Eduardo Lourenço no Labirinto da saudade: "Não é possível construir nem viver de uma imagem nacional asséptica, à margem de toda a hipótese ideológica, ou, se se prefere, de qualquer preconceito explícito. Mas, justamente por isso, nada é mais necessário do que rever, renovar, suspeitar sem tréguas as imagens e os mitos que nelas se encarnam inseparáveis da nossa relação com a pátria que fomos, somos, seremos, e de que essas imagens e mitos são a metalinguagem onde todos os nossos discursos se inscrevem". Ora, Portugal revela muita ideologia que o seu povo, de crise em crise, à quase mendicância. Foi Assim desde o fim da Monarquia em que a Ideologia republicana reproduziu governos e governantes incompetentes e vaidosos, homens que professavam os mesmos credos, mas que se julgavam superiores aos seus iguais, todos de uma incompetência extrema para a governação que em poucos anos desbarataram em nome do progresso, do cientismo e do positivismo, as débeis economias da nação. O resultado foi o que se viu: a sua incompetência entregou o povo a uma longa ditadura, única maneira de dar sentido e orientação a uma nação desordenada. E como lembra nesta transcrição E. Lourenço, a ideologia do Estado Novo, que existia, foi mantida com o aproveitamento de mitos e imagens com que os portugueses aprenderam a identificar-se. As imagens caíram e os mitos foram arrasados pela Revolução dos cravos de 1974 que mais uma vez, depois de ter devolvido de uma forma extraordinária a liberdade de expressão, de opinião, a escolha de quem nos passa a governar - e a LIBERDADE É O BEM MAIOR DO HOMEM - por causa da ideologia, do pragmatismo, do económico e do pretenso progresso, não tardou a ficar hipotecado o futuro da Nação. A Troika é o culminar, mas já antes, alguns anos antes por cá andou em períodos diversos, o FMI. Parece que desde a república, mas ainda bem antes, a ideologia daqueles que nos vão governado se tem imposto a uma ideia de conjunto do país em que vivem e devem servir. A tendência é eliminar qualquer ligação aos mitos e imagens em que se edificou o nosso País, pequeno na origem, que rapidamente passou a Império e que só recentemente voltou às fronteiras originais. Os nossos governantes falham sistematicamente por não perceberem que Portugal não tem na sua origem o económico e por isso não sabe lidar com ele, sendo aquilo que lhe dá sentido e unidade da ordem do que há-de vir e não do já conhecido, não tem na sua origem a racionalidade e por isso os modelos porque normalmente se regem as nações são-lhe de difícil compreensão. O português construiu o país mais antigo da Europa mas não se quis fixar nele: fê-lo como porto de partida e não como abrigo de chegada. O português ama a liberdade, é um ser paradoxal (não racional) sempre com os olhos postos no que está para vir, sem ser capaz de se prender ao presente e projetar o futuro e é por isso que temos grande dificuldade em nos governarmos. Parece que vivemos num mundo tão racional e bem ordenado que não entendemos e enquanto os governantes não perceberem os alicerces em que assenta o povo português, o resultado é previsível: muita dependência, muita incompetência, muito sofrimento e poucas perspetivas de uma vida boa.   
Nuno Gonçalves terá pintado entre 1470 e 1480 para uns, ou em 1445 para outros, tanto faz, os enigmáticos Painéis que, por imagens, transpunham, um olhar sobre o passado, o presente e aquele que se queria ser o futuro de Portugal e ressalta uma realeza humilde, curvada em oração, ao serviço do povo que sabe cativar para as realizações futuras. Uma realeza que serve os que governa e que governa servindo. Tempos idos, pouco meditados e por isso, o povo tão desprezado e mal governado.   

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